O que eu Bebi por você

Se eu parasse para contar quantas lágrimas já derramei por você, quanto que eu gastei em pinga, que antes eu nem mesmo bebia, ou as noites em claro que eu passei, ficaria mais de anos nessa contagem.
Que bom que essa fase passou e eu superei, prometi para mim que jamais permitirei passar por isso outra vez.

Depois de muito custo, de tanto bater a cabeça na quina da vida, com tanta desilusão no coração e pinga no corpo, eu superei você.
Confesso que achei que esse dia nunca fosse chegar, mas chegou, e agora é só felicidade com o meu novo amor: eu mesma.

Não vou mais chorar como eu chorei antes, seja por qual motivo for.
Por você eu já derramei um rio inteiro e bebi o que nunca havia bebido na vida.
Fiz loucuras, me afundei num mar de tristezas e você nem sequer perguntou de mim por aí.
Agora entendo que a desilusão que vivi só era consequência das histórias que eu criei, pois meu herói você realmente nunca foi e não seria na hora da dor que iria me socorrer e dizer que estava arrependido.

Olhe para mim, será que consegue sentir o cheiro de todas as pingas que eu tomei Quantas vezes dormi em cima do choro que não me abandonava nem mesmo por um segundo.
Eu sofri demais, mas passei por cima, encerrei esse ciclo e agora você me diz que quer voltar.
Sacanagem das grandes, das boas e da qual eu não cairei outra vez.
Agora, que chore você, e que gaste os últimos centavos no boteco da esquina.
Daqui de cima, eu lhe verei passar um pouco do que eu passei.

Enxuguei as lágrimas da desilusão depois do último papelão que passei na mesa do bar.
Pedi para o garçom me filmar e no dia seguinte vi o estado em que eu me encontrava.
Eu não era aquilo ali e de uma vez por todas decidi que você não iria mais acabar comigo.
Isso já faz um ano, um ano que me livrei de todo mal que me fez.

Eu implorava para beber mais um copo, pegar a saideira e beber até não conseguir dizer chega.
Diversas vezes acordei no motel, não sabia o que fazia e com quem estava, me sentia um nada e desprezada.
O choro era o meu maior companheiro e quando decidi que não viveria mais desse jeito, a bebida foi a primeira que larguei.

O que eu bebi por você não vale nem a pena contar, seria triste demais mostrar mais um pouco do que você causou em mim.
Eu quero esquecer essa fase ruim, do quanto demorei a superar a sua ausência em minha vida, mas agora, de cabeça erguida, eu posso seguir sem sofrer.

Quando eu falo de nós dois só consigo lembrar do sofrimento causado em mim quando você se foi.
Doeu demais e eu bebi todas para tentar esquecer, minimizar a minha dor, mas nada adiantou.
Entendi que o caminho estava errado, que eu precisava primeiro encontrar o meu amor próprio para depois seguir uma vida saudável, feliz e até encontrar alguém que realmente merecesse a minha atenção.

Até o garçom se tornou meu amigo depois que me viu chorar todos os litros de bebida que consumi em seu bar.
Passei dias e dias a fio indo lá reclamar da vida que tinha, do que já não podia mudar e ele ali, me servindo um copo de pinga.
Foi triste, eu sei, mas valeu.
Esse tempo hoje já não é mais meu e quando eu passo por lá vejo ele a consolar outro alguém que sofre em meu lugar.

Superei, doeu, amor, mas eu cansei, depois de tudo que gastei quase fui parar no calabouço.
Aprendi assim que a vida tem seus altos e baixos, mas que se eu não for dura, nada de bom acontecerá comigo também e é por isso que meu discurso hoje vai para você, em prova do amor que já não sinto mais.

Eu só queria ser feliz ao seu lado, mas em compensação, você não quis mais ser meu namorado e me largou na sarjeta da vida.
Sem saber para onde ir eu entrei num bar e ali passou a ser a minha nova casa, na esperança de que assim que a lucidez batesse, eu fosse encontrar você.

Para curar a dor que senti quando você se foi, aluguei uma casa em outro lugar, perto de uma casa de dança e de alguns bares.
Sabia que lá poderia me divertir toda vez que sua imagem aparecesse para mim em um delírio de amor cruel.
Mas confesso, perdi muito mais do que ganhei, senti o vazio bater na minha cara e isso doeu, pois nos corpos que via eu nada sentia, no copo que eu bebi só dinheiro eu perdia, e no final de cada noite nem mesmo sabia onde eu estava.

Eu chorava e bebia, bebia e chorava por causa de você.
Passei meses nessa terapia furada onde a felicidade não me encontrava e só a melancolia ia embora comigo para casa.
Esse tempo foi cruel, mas eu passei, virei o papel e consegui abrir as portas para um novo mundo.
De você, meu bem, eu já não quero nada, nem mesmo as lembranças, as cartas, as roupas amassadas, não quero nada.

O mundo é bom, eu é que não via, de tanta pinga que ingeria até cega eu fiquei.
Cega da verdade, do amor próprio, da coragem que costumava ter antes de você aparecer.
Meu mundo virou de pernas para o ar, mas logo consegui me reerguer, pois no meu caminho encontrei pessoas maravilhosas para me acolher.

O que bebi por você não tá escrito e não pode ser nem mesmo contado.
Meu dinheiro todo foi gasto em busca de um pouco de paz, um auxílio que nunca vinha, mas que era a única forma de me manter um pouco longe da tristeza.
Mas, no fim da noite, quando a música parava e você ali não estava, o choro voltava a aparecer.