O que fazer das sobras do amor
O que fazer das lembranças do cheiro, da voz, do toque, dos olhos, das cócegas, dos risos, das viagens, das imagens
O que fazer das lembranças do abraço, das mãos, do carinho sutil, do carinho voraz, do banho, do café à mesa, dos filmes vistos, criticados, admirados, inacabados
O que fazer da música escolhida, do beijo prolongado, roubado, do amor no carro, na sala, no quarto
O que fazer quando o telefone toca e do outro lado não se ouve mais a mesma voz
O que fazer das mensagens gravadas, das cartas escritas, dos sentimentos impressos, dos presentes guardados
Mas o que fazer também das ofensas do amor
O que fazer das lembranças dos gritos, das afrontas, dos olhos marejados, decepcionados, das palavras cortantes, do filme repetido, dos sonhos ruídos, da sensação do desconhecido
O que fazer com a sensação de culpa, fracasso, impotência, incoerência
O que fazer dos sentimentos revirados, transformados, do ódio repentino, do amor estilhaçado, quebrado, tantas vezes remendado
O que fazer da ausência que se sente Ausência de paz, ausência da ausência, ausência de si mesmo
O que fazer
Talvez o tempo se encarregue de apagar as lembranças, de mudar o cenário, de reinventar o passado Por hoje, não sei o que fazer com tudo isso