Qualquer gato
No seixo rolado do pátio escorrega um gato preto, de olhos cor de caramelo.
Enquanto fita entusiasmado meus movimentos, se esquiva do vento
que se contorce por todos os lados.
Desarmado, fito (eu) o gato preto, pardo, branco, malhado
Amedrontado, não o perco de vista um segundo sequer
acompanho lhe todos os movimentos projecionados.
Gato é bicho misterioso!
Cheio de segredos, anda lentamente
Altivo, exploratório e destemido.
No fundo, temo que ele não me entenda, e não compreendendo me o motivo de meu temor
apreenda meu medo e passe a agir como agiram os gatos anteriores
fazendo me temer a todos generalizadamente.
Lembro me de sua personalidade 'sempre' doce, e também, de seu agir genioso.
Engenhoso, guarda (ele) a dimensão do assombro
percorrendo o mundo no limite da percepção humana.
Escala nas noites escuras:
Os telhados úmidos, os muros duros, os entremundos
Enquanto guarda me o sono.
De aguçados sentidos, percebe antes de todos os possíveis riscos.
Antecipa se quase sempre, assustadoramente, como se antevisse uma visagem ainda invisível
e com o pêlo do corpo ouriçado, e as enormes unhas arregaladas feito facas, põe se pronto a reagir.
Vive no mundo sensível, guardando o tempo e as possibilidades
com habilidade segue tateando o mundo
semeando amor e medo.
Só não me atrevo a deixá lo cruzar me o caminho!
Temo que ao cruzar me o caminho roube me a sorte, e traga me sete anos de azar.
Corro feito corre a chuva caída nos rios o mais depressa que posso.