Mulher não tem receita
Mulher há de ser uma expressão de delicadeza,
muito mais pra flor do que para aspereza humana.
É um encanto que combina força e beleza,
pouco importa se coberta de rosa ou azul.
Ainda que tudo seja breve, se veste de graça,
se reveste de brilho que vem da própria alma,
e desabrocha na cobiça dos homens,
onde o olhar não é assédio, mas admiração,
e necessário, caso contrário, seríamos cegos.
Mulher é muito mais que um corpo em movimento,
é uma mistura das inquietações humanas,
um coisa tão serena e calma,
quanto um vulcão adormecido.
Mulher é como uma borboleta que pousa,
fica um pouco e parte e se quiser, pode voltar.
É como uma nuvem que cobre e arrefece o calor,
ou labareda que aquece e faz derreter o coração.
Mulher é um templo onde os olhos são as portas,
e tem por dentro um mundo próprio e infinito.
Mulher é acordo, discórdia, contradição,
é um porto, um mar, um lugar,
onde não há acordo, nem rendição.
É maldade inocente, astúcia, malícia,
interesse, cobiça, esperteza,
carícia e até manipulação.
Mulher é um universo,
um encanto, um desencontro,
e até um bosque ou um parque,
com lugares que dão até medo,
e outros que são pura diversão.
Mulher pode ser rude, áspera,
inquieta e até desajeitada,
mas não é insensível,
nem resiste à carícia e ao elogio.
Mulher é uma planície tão calma,
quanto a escalada de um desafio.
É um monte, um cume, um precipício,
um lugar de sonho pra jamais acordar.
Mulher é zelo, é cuidado, é mãe,
mulher é um ser misto,
metade anjo, metade humano,
talvez metade homem,
por erro de algum cromossomo.
Mulher, enfim é mistério,
não poderia haver receita,
não tem como ter bula,
nem manual de instrução,
se tiver sorte de ter uma,
terá que descobrir sozinho o caminho,
para extinguir os resquícios do homem,
e ter a sorte de sobrar um anjo.
Mulher é o princípio, o meio e o fim,
é a razão do homem existir.
Não é um destino, é um caminho,
um abismo ou um precipício.
É um poço ou um fosso,
onde um homem pode se lançar,
sem medo de se afogar.
Mulher é um perfume que embriaga,
com angustias, sorrisos e encantos,
como a perfeição da criação.
É uma fera solúvel em água,
que dá à vida um certo ar de graça,
e que me perdoem os homens,
mas a mulher é fundamental.
(Paródia à ‘Receita de mulher’, de Vinicius de Morais).