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Feliz Aniversário Mãe

PARA MINHA MÃE
Perdão por eu não ter sido sempre um bom filho
Por eu ter me zangado e reclamado contigo tantas vezes
Por eu ter batido o pé
Ter batido a porta
Por eu ter fechado a cara
Perdão por eu ter dado tanto trabalho
Tanta dor de cabeça
Por eu ter sido tão tolo
Mas, sobretudo, muito obrigado.
Obrigado por ter cuidado de mim com tanto carinho
Por ter dedicado teu tempo e teu esforço para educar me
Por sempre ter dito o que seria melhor pra mim
Como ter que acordar cedo para ir estudar
A dar valor ao que temos,
A insistir, a perseverar
E até mesmo muito obrigado pelas vezes em que você “se meteu em minha vida”
Só para o meu bem
Tudo bem, eu posso não ter aprendido muitas coisas, ainda
Mas eu vou tentando
Obrigado por ter segurado a minha mão
Em meus primeiros passos
Obrigado por ter me abraçado
Quando eu tive medo
Obrigado por ter me colocado no colo
Quando eu estava triste
Ou por simplesmente ter chorado comigo
Quando o mundo inteiro parecia uma nuvem de lágrimas
Eu sei que muitas vezes eu te deixei aflita
Eu sei que muitas vezes eu te deixei triste
Mas eu espero que você saiba
Que o teu sorriso de satisfação é o que eu mais gosto de ver
Quando eu consigo fazer algo de bom em minha vida
E aconteça o que acontecer,
Eu sempre lembrarei de quem cantava para eu dormir
De quem aturava minhas travessuras e brincadeiras
De quem nunca se importou
Se o carinho que eu pedia era demais
Para você, nunca era demais!
E por tamanho amor e dedicação tua
Hoje eu sigo forte em minha vida
Talvez não tão feliz quanto você queria
Talvez não tão bom quanto você merecia
Talvez não tão vitorioso quanto você sonhou
Mas ainda lutando bastante, como você me ensinou
É às vezes dizemos as coisas mais cruéis
Para as pessoas que mais amamos
Mas isso é só por que somos estúpidos
E sabemos que podemos contar com o perdão depois
Pois a verdade é que sempre pediremos perdão depois
Mas neste momento eu quero, especialmente, te dizer muito obrigado
Por ser minha mãe
E quero te dizer que eu sempre,
sempre, sempre
amarei você.

Caso do Vestido
Nossa mãe, o que é aquele
vestido, naquele prego
Minhas filhas, é o vestido
de uma dona que passou.
Passou quando, nossa mãe
Era nossa conhecida
Minhas filhas, boca presa.
Vosso pai evém chegando.
Nossa mãe, dizei depressa
que vestido é esse vestido.
Minhas filhas, mas o corpo
ficou frio e não o veste.
O vestido, nesse prego,
está morto, sossegado.
Nossa mãe, esse vestido
tanta renda, esse segredo!
Minhas filhas, escutai
palavras de minha boca.
Era uma dona de longe,
vosso pai enamorou se.
E ficou tão transtornado,
se perdeu tanto de nós,
se afastou de toda vida,
se fechou, se devorou,
chorou no prato de carne,
bebeu, brigou, me bateu,
me deixou com vosso berço,
foi para a dona de longe,
mas a dona não ligou.
Em vão o pai implorou.
Dava apólice, fazenda,
dava carro, dava ouro,
beberia seu sobejo,
lamberia seu sapato.
Mas a dona nem ligou.
Então vosso pai, irado,
me pediu que lhe pedisse,
a essa dona tão perversa,
que tivesse paciência
e fosse dormir com ele
Nossa mãe, por que chorais
Nosso lenço vos cedemos.
Minhas filhas, vosso pai
chega ao pátio.
Disfarcemos.
Nossa mãe, não escutamos
pisar de pé no degrau.
Minhas filhas, procurei
aquela mulher do demo.
E lhe roguei que aplacasse
de meu marido a vontade.
Eu não amo teu marido,
me falou ela se rindo.
Mas posso ficar com ele
se a senhora fizer gosto,
só pra lhe satisfazer,
não por mim, não quero homem.
Olhei para vosso pai,
os olhos dele pediam.
Olhei para a dona ruim,
os olhos dela gozavam.
O seu vestido de renda,
de colo mui devassado,
mais mostrava que escondia
as partes da pecadora.
Eu fiz meu pelo sinal,
me curvei disse que sim.
Sai pensando na morte,
mas a morte não chegava.
Andei pelas cinco ruas,
passei ponte, passei rio,
visitei vossos parentes,
não comia, não falava,
tive uma febre terçã,
mas a morte não chegava.
Fiquei fora de perigo,
fiquei de cabeça branca,
perdi meus dentes, meus olhos,
costurei, lavei, fiz doce,
minhas mãos se escalavraram,
meus anéis se dispersaram,
minha corrente de ouro
pagou conta de farmácia.
Vosso pais sumiu no mundo.
O mundo é grande e pequeno.
Um dia a dona soberba
me aparece já sem nada,
pobre, desfeita, mofina,
com sua trouxa na mão.
Dona, me disse baixinho,
não te dou vosso marido,
que não sei onde ele anda.
Mas te dou este vestido,
última peça de luxo
que guardei como lembrança
daquele dia de cobra,
da maior humilhação.
Eu não tinha amor por ele,
ao depois amor pegou.
Mas então ele enjoado
confessou que só gostava
de mim como eu era dantes.
Me joguei a suas plantas,
fiz toda sorte de dengo,
no chão rocei minha cara,
me puxei pelos cabelos,
me lancei na correnteza,
me cortei de canivete,
me atirei no sumidouro,
bebi fel e gasolina,
rezei duzentas novenas,
dona, de nada valeu:
vosso marido sumiu.
Aqui trago minha roupa
que recorda meu malfeito
de ofender dona casada
pisando no seu orgulho.
Recebei esse vestido
e me dai vosso perdão.
Olhei para a cara dela,
quede os olhos cintilantes
quede graça de sorriso,
quede colo de camélia
quede aquela cinturinha
delgada como jeitosa
quede pezinhos calçados
com sandálias de cetim
Olhei muito para ela,
boca não disse palavra.
Peguei o vestido, pus
nesse prego da parede.
Ela se foi de mansinho
e já na ponta da estrada
vosso pai aparecia.
Olhou pra mim em silêncio,
mal reparou no vestido
e disse apenas: Mulher,
põe mais um prato na mesa.
Eu fiz, ele se assentou,
comeu, limpou o suor,
era sempre o mesmo homem,
comia meio de lado
e nem estava mais velho.
O barulho da comida
na boca, me acalentava,
me dava uma grande paz,
um sentimento esquisito
de que tudo foi um sonho,
vestido não há nem nada.
Minhas filhas, eis que ouço
vosso pai subindo a escada.