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Anjo

O Anjo
Com um mover da fronte ele descarta
tudo o que obriga, tudo o que coarta,
pois em seu coração, quando ela o adentra,
a eterna Vinda os círculos concentra.
O céu com muitas formas Ihe aparece
e cada qual demanda: vem, conhece .
Não dês às suas mãos ligeiras nem
um só fardo; pois ele, à noite, vem
à tua casa conferir teu peso,
cheio de ira, e com a mão mais dura,
como se fosses sua criatura,
te arranca do teu molde com desprezo.
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O Cego
Ele caminha e interrompe a cidade,
que não existe em sua cela escura,
como uma escura rachadura
numa taça atravessa a claridade.
Sombras das coisas, como numa folha,
nele se riscam sem que ele as acolha:
só sensações de tato, como sondas,
captam o mundo em diminutas ondas:
serenidade; resistência
como se à espera de escolher alguém, atento,
ele soergue, quase em reverência,
a mão, como num casamento.
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O mundo estava no rosto da amada
O mundo estava no rosto da amada
e logo converteu se em nada, em
mundo fora do alcance, mundo além.
Por que não o bebi quando o encontrei
no rosto amado, um mundo à mão, ali,
aroma em minha boca, eu só seu rei
Ah, eu bebi.
Com que sede eu bebi.
Mas eu também estava pleno de
mundo e, bebendo, eu mesmo transbordei.
\\\
"No mundo, a coisa é determinada, na arte ela o deve ser mais ainda: subtraída a todo o acidente, libertada de toda a penumbra, arrebatada ao tempo e entregue ao espaço, ela se torna permanência, ela atinge a eternidade.
( )"
§
"Quero viver como se o meu tempo fosse ilimitado.
Quero me recolher, me retirar das ocupações efêmeras.
Mas ouço vozes, vozes benevolentes, passos que se aproximam e minhas portas se abrem "
§
"Procure entrar em si mesmo.
Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite:"Sou mesmo forçado a escrever " Escave dentro de si uma resposta profunda.
Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples "sou", então construa a sua vida de acordo com esta necessidade.
Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar se o sinal e o testemunho de tal pressão.
Aproxime se então da natureza.
Depois procure, como se fosse o primeiro homem, a dizer o que vê, vive, ama e perde.
( )"

O ANJO SEM ASAS
( 23/04/2007 )
Deus enviou à terra, assim como muito outros, um de seus anjos mais amados, porém a este não entregou suas asas.
Ele teria que consegui las sozinhas durante sua missão terrena, depois
voltaria ao céu.
Na terra o anjo cresceu n uma família feliz e desde pequeno já sorria quando olhava o vôo dos pássaros no infinito.
Aos poucos foi construindo um mundo de paz e de sonhos e foi assim que começou a confeccionar as suas asas para voar.
Eram asas de metais e sempre que queria conversar com seu Pai Celestial saía voando com suas asas mecânicas sobre os rios, cidades, serras e oceanos.
Era tão grande o seu amor pelo vôo que Deus resolveu colocar em seus olhos dois pedaços azuis do céu.
Ele vivia no seu dia a dia a fazer amigos, distribuindo bondade e sorriso por onde passava e aos poucos se tornava bastante querido por todos que o conheciam, mas o que mais gostava era de voar, voar bem alto todos os dias e por enquanto voava com suas asas de metal.
Ao cumprir sua missão aqui na terra, ele não sabia que a cada bondade sua Deus colocava uma pena a mais na confecção de seu par de asas.
E como não sabia deste critério, ele mesmo fabricava suas asas mecânica cada vez mais modernas a ponto de um dia, quem sabe levá la de volta ao céu pensava.
Durante seus vôos ele fazia favores para amigos, parentes e até simplesmente para pessoas que apenas conhecia pelo caminho.
Tinha o dom de fazer amigos e era isso que, sem que ele soubesse, acelerava mais ainda a fabricação de suas próprias asas.
O tempo passou e numa manhã, quando faltava somente uma pena para que Deus terminasse de confeccionar as asas e colocá las em seu anjo, este voava debaixo de um temporal que caiu de repente sobre a bela cidade que ele tanto amou e tanto admirou em seus passeios alados.
A chuva tornava difícil o vôo, mesmo assim ele estava seguro, pois sabia que era anjo, no entanto, levava consigo sua alma gêmea, aquela a quem mais amou e que escolheu para ser a mãe de seus três maiores tesouros, então, esquecendo de si mesmo, fez de tudo para salvá la e não abandonou um só momento sua outra metade.
Esta grande prova de amor por parte do anjo foi suficiente para que Deus terminasse de confeccionar suas asas, que de imediato surgiram nas suas costas segundos antes da ultraleve chocar se contra a parede de um edifício.
Ninguém viu, mas ainda deu tempo do anjo abandonar seu corpo já sem vida e proteger com suas asas aquela a quem mais amou e continuará amando na eternidade.
Assustado ele a viu desmaiada em seus braços, quando policiais chegavam para socorrê la, mas Deus o conformou: Calma, ela apenas dorme.
Veja você conseguiu suas asas ao doar sua própria vida para salvá la.
Cumpriu pois sua missão e já pode voltar.
Mas sei do seu pensamento e vou lhe conceder um pedido, completou Deus sorrindo.
Deixe me continuar ao lado de minha família, falou.
E Deus concedeu o seu pedido, porém, o tornou invisível como todos os outros anjos da guarda.
Hoje, Maurocélio, não voa mais no seu ultraleve, pois agora tem suas próprias asas.
Não o vemos mais, mas com certeza está voando em silêncio por aí, protegendo a todos aqueles
a quem continuará amando eternamente.
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Crônica escrita por Vaumirtes Freire, o poeta do silêncio, In memória de Maurocélio, um anjo sem asas que voava entre nós, e que numa manhã chuvosa tornou se invisível para continuar sua missão de anjo da guarda.
Durante sua vida terrena nunca quis os holofotes dos palcos, nem os aplausos dos amigos a quem tanto serviu, viveu sempre nos bastidores, invisível como um anjo, a plantar sementes de bondade e conquistar amigos, que se fizeram presentes às centenas no instante em que ele finalmente recebeu suas asas para voar como sonhou um dia
* Maurocélio partiu para a vida eterna em abril de 2007 após uma queda de ultraleve quando passeava sobre os céus de Sobral,ce numa tarde chuvosa com sua esposa, que sobreviveu a queda, graças a atitude do seu anjo sem asas.