O chão é cama para o amor urgente,
amor que não espera ir para a cama.
Sobre tapete ou duro piso, a gente
compõe de corpo e corpo a úmida trama.
E para repousar do amor, vamos à cama
Antes, achava que o amor, necessariamente, precisava acontecer logo de cara e que, com o tempo, as chances de ele nascer só diminuiriam. Pensava: caso eu não comece a amar à primeira ou, no máximo, à quinta vista, com certeza, não a amarei.
Ela não é a mulher ideal para mim, pensava, antes mesmo de dar uma oportunidade para que a moça me provasse o quanto eu, baseado apenas em desconhecimentos, criava hipóteses totalmente sem fundamento.
Nunca daremos certo, eu dizia, como se pudesse prever o futuro, para que ela, aquela com quem eu havia jantado apenas uma vez, não voltasse a me procurar.
Proclamava frases como essas, pois achava que, algum dia, em alguma esquina, bateria os olhos em alguma guria e, abruptamente, como num passe de mágica, identificaria a mulher da minha vida.
E assim, sem ao menos conhecê las, neguei as. À espera de uma mulher que, desde o primeiro encontro, parecesse perfeita, não dei chance para que o amor, aos poucos, regado pela crescente intimidade e pelo aprimoramento da convivência, fizesse se vistoso e sólido.
Assim como acontece com a massa de um bolo que parece incapaz de inchar, o amor também pode, quando menos esperamos, crescer e até, nos melhores casos, transbordar da nossa forma.
Achava que aconteceria como nas comédias românticas e que bastaria um esbarrão para que eu percebesse que estava diante daquela com quem dividiria as dores da velhice e o medo de partir dessa para sei lá qual.
Quase nunca acontece como nos filmes!. Percebi que para deixarmos o amor surgir, em muitos casos, precisamos dar tempo e chances para que o outro mostre o quanto está disposto a se adaptar e a relevar as nossas imperfeições.
E, meus caros, posso afirmar que não existe nada mais bonito do que perceber que, para ficar perto de nós, o outro aprendeu a aceitar e até a admirar as nossas imperfeições.