Amor abusado
É engraçado quando estamos carentes que qualquer movimento diferente nos parece o amor chegando.
É o cara que te oferece ajuda na academia, o motorista gentil que faz sinal para tu passares na faixa de segurança, a moça com o sorriso simpático no caixa do supermercado Tudo é motivo para pensarmos que ali vai se dar início a uma nova história.
Mas, será mesmo Será que vai acontecer naquele momento Será que o cara da academia vai te chamar para trocar uma ideia depois do treino Ou o motorista vai te seguir e pedir teu número com o telefone dele na mão Ou então a moça do caixa vai escrever um “me liga” na nota fiscal, tendo o seu número logo abaixo Infelizmente, não! O amor não é assim.
O amor é abusado.
Ele entra com a casa bagunçada, de pijama, quando tem gente.
Sem percebermos, ele se instala.
Ele chega em meio a confusão, a euforia, a perda, a conquista.
Mas, o que é amor Quem é esse que tanto falam Qual é desta insatisfação que torna tudo insatisfatório quando não o temos Será que é tão importante amarmos e sermos amados Eu percebi que sim, na minha quinta série.
Quando tive uma professora amarga e diziam que era mal amada.
Não tinha ninguém para compartilhar seus problemas, suas conquistas e muito menos as alegrias.
Acabava que, no final do dia, era apenas ela e mais ninguém.
Nada a motivava pelo que eu podia perceber.
Foi se isolando tanto do mundo que, hoje, vive em um sítio com uns oito gatos e vai à cidade apenas para fazer compras, quando necessário.
Eu tenho medo da solidão e, diga se de passagem, que desde muito tempo já venho planejando meu “plano B”, caso eu não encontre este “tal amor”.
Todo mundo anseia por isso, nem que seja bem lá no fundo.
O desejo é unânime: querer cuidar e ser cuidado.
Deixemos, então, a porta entreaberta para ele entrar.
O amor acontece quando a gente menos espera.
Quando pensamos: “este aí nunca vai ser o amor da minha vida! ” E é.
Dizem que ele chega para os mais distraídos, para aqueles que estão ocupados vivendo a vida com gosto, para pessoas com menos planos na agenda.
Ele vem quando quer, e não quando queremos.