Tempos
"E quem já amou alguém nesta vida saberá
Que de tudo o que se fez, tudo nada voltará
E que há um bem maior no que há de menor para se ver
Para se ter, sentir, tocar, crer, ganhar e perder
Que há um tempo imponente frente ao que tememos
Ao que abrigamos e não desejamos desembrulhar
E ele é intocável, é lindo, desejo dos mortais
Não se compra, não se vende
Não se cria, não se desliga
Não se respira, não se emputrece
Não se materializa e não se despede
E quem já chorou alguém nesta vida saberá
Que o que lava a alma também lava a palma
Que por onde andam palavras andam também silêncios
E andam sorrisos, andam céus alaranjados em púrpura
Você já se manifestou a serviço do tempo
Mestre dos mestres, sábio dos sábios
Mago dos ensinamentos, servo dos virtuosos
Quem somos nós para pedí lo, para ganhá lo
Quando queremos ou não temos o que fazer
Pois quem é ele para nos reger, nos determinar
Criar bordas, cercas, medidas e métricas surreais
Que venha e que não peça permissão para me chocar
Pois sou fruto do fruto e matéria divina
Sou pouco mais do que muito poderia ser
Mas sou aquilo que ama, que sente
Que toca, que areia, que lágrima e que ausência
Isso não se eterniza, se torna momento
Fração de vida, perpetuado em alguma memória vaga
E que retorna, retorna e retorna
Assim, atemporal."