Valter da Rosa Borges

Tudo não pára de viver,
tudo não pára de morrer.
Eis a imortalidade!

Se por aqui vaguei, meu corpo sabe.
As células festejam meu retorno.
Meus pés andam sozinhos, eles sabem
onde encontrar os passos que ficaram
gravados na memória das areias.
Os átomos que fui, andam no mundo.
Um dia, me dirão por onde estive.

Santificaram a pobreza.
Mas muitos pobres preferem
a riqueza à santidade.
Satanizaram a riqueza.
Mas os ricos não se importam
se sua riqueza é satânica.

Quem necessita de admiradores, não tem suficiente admiração por si mesmo.

O sol de fim de tarde pouco aquece.
Em tudo sopra uma saudade fria.
Recolho os sonhos e recolho os fatos:
todos serão iguais no anoitecer.

Não há explicação para a alegria,
nem nos interessa explicá la.
Porém, a doença, o sofrimento,
a velhice e a morte inevitável
nos fazem pensar que a vida
tem alguma explicação.

O tempo vazio.
O espaço vazio.
O coração vazio.
Um oco que não tem fim.
A solidão sem fronteiras.
Um silêncio surdo mudo
é testemunha do nada.

É uma infelicidade a ânsia de ser feliz.

O sonho é o nosso modo
de caminhar sem o corpo.
O corpo pouco nos leva:
somos nós que o arrastamos.
Queremos ver mais que os olhos,
ouvir mais que os ouvidos,
e exercer a onipresença,
em qualquer lugar do mundo.

Quem não sabe sorrir e chorar, é um ser humano incompleto.

Ninguém deixa de amar:
o amor é que muda de objeto.

O povo é um rebanho sempre a procura de um pastor.
Mas, quase sempre, não sabe escolher o pastor.

A felicidade não se guarda:
é para consumo imediato.

Saudade do que fiz.
Saudade do que não fiz.
Não sei qual delas dói mais.

Nem o ácido do tempo
dissolve a dura saudade
em que o amor se tornou.