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Thaysa Ribeiro

Não se vá com a chuva
Lembro me bem da primeira vez que a vi.
Estava com um vestido azul florido.
Com os cabelos escuros soltos sendo levemente bagunçados pelo vento, e suavemente molhados pela garoa.
Andava apressada, acredito que não pelo fato de estar chovendo, pois não me parecia incomodada com os chuviscos.
Repentinamente virou se para o lado esquerdo encontrando meus olhos tão fixamente postos sobre ela.
Nossos olhares se cruzaram por instantes que duraram uma vida, acredito que não só para mim.
Vagarosamente caminhou em minha direção, sem ao menos desviar o olhar adentrou no restaurante em que me encontrava.Não pude conter me ao vê la, senti um sorriso moldar se em meus lábios finos da forma mais convidativa possível.
Ela veio sentar se comigo.
Conversamos durante alguns minutos, ou horas, não sei, o tempo era a última coisa que me vinha à cabeça.
Eu estava feliz, não sei o porquê, mas eu estava feliz.
Não sei se era o fato de estar ali conversando com alguém que acabara de conhecer, e que de alguma forma fazia me sentir como conhecidos de longa data.
Ou por simplesmente estar apaixonado por esse alguém.
Não importava.
Eu senti como se a felicidade pulsasse por minhas veias.
Era algo mágico.
Não conseguindo me controlar mais, fui me aproximando cada vez mais de seu rosto, delicadamente prendi a mecha de cabelo que escondia parcialmente seu rosto atrás da orelha, me aproximei um pouco mais e, desisti.
Aqueles olhos castanhos eram praticamente ilegíveis, não conseguia saber se me convidavam ir mais além ou se me repreendiam.
Voltei ao meu lugar inicial, e foi à vez dela, esta não se preocupou em ir pausadamente, diferentemente de mim, ela o fez depressa.
Nossos lábios se tocaram e se encaixaram perfeitamente.
Foi nesse exato momento em que pude desvendar o enigma.
Eu não estava apaixonado, não mesmo.
Eu estava amando, da forma mais insana e imprevisível, eu estava amando.
Ela afastou se.
E consultou o relógio de pulso, dizendo:
Eu tenho que ir.
Estou atrasada para um compromisso.
Ela levantou se e virou em direção a saída.
Vendo isso, a segurei pelo braço e disse:
Espera.
Ao menos me dê seu telefone, por favor.
Ela me ignorou.
Andou em direção a porta sem nada dizer.
Num impulso andei atrás dela.
Correndo, ela cruzou a porta do restaurante e esta se fechou num estrondo.
Quando saí já não chovia mais e não restava mais nada, nem um rastro, nada, a chuva se fora e a levara junto.
Olhei para todos os lados em busca dela, nenhum sinal, nada.
Abatido, entrei em meu carro e dirigi até o trabalho.
Durante algumas noites tive pesadelos.
Sonhava que em um momento a tinha em meus braços e no outro ela simplesmente desaparecia.
Mas não resolvi contar essa história para desiludir aqueles que sonham com o para sempre, amor à primeira vista ou coisa assim, mas simplesmente por que hoje eu a vi.
Lembrei me do primeiro dia.
Ela avançada pelas ruas, deixando que o vento bagunçasse levemente seus cabelos escuros.
Mas a diferença foi que dessa vez ela não andava depressa, e também estava acompanhada.
Não podendo mais conter minhas lágrimas, chorei sem disfarçar.
Por um instante senti o calor de seu olhar, jamais conseguirei saber se foi delírio meu.
Mas por um instante em que a olhava revivi os momentos naquele restaurante, pude ouvir em minha mente o som repetitivo de seus sorrisos, pude sentir o calor de seus lábios novamente, vi todo o amor que em mim ainda não passou, mesmo depois de todos esses anos.
Um dia acreditei em para sempre, em amor à primeira vista, mas tive a infelicidade de perdê lo no mesmo dia.