Diálogos da vida e da morte
Ultimamente, tenho pensado sobre o sentido da vida e no sentido da morte.
Dormimos e acordamos.
A dinâmica da respiração.
As contrações do coração e dos pulmões.
Processos nos quais estamos diante o tempo todo e quase não damos importância.
No plano vivencial, vida e morte não são condições irreconciliáveis, dado que aceitando ou não, convivemos com essas duas realidades.
O filósofo estóico Sêneca nos instrui a cada dia sermos organizados como se fosse o último e concluísse a nossa vida.
Chama nos a atenção de que a qualidade de vida é mais decisiva para a nossa felicidade, que não é isenta de conflitos e tristezas, do que a vida na perspectiva cronológica do passar dos anos.
Olhar o mundo como se fosse despedida, para fazermos coisas melhores do que já fazíamos e sermos mais do que estávamos acostumados a ser, no sentido de plenitude da existência.
São tantas as pessoas que encontrei e que já partiram.
O tempo em que vivi com elas jamais será destruído.
Trago um Kairós dentro de mim, um santuário feito de memória e recordações.
Todavia, estou no Khrónos, no eterno devir, nas infinitas possibilidades para vida, que ao mesmo tempo afeta meu plano vivencial.
Como Francisco de Assis, chamo a morte de irmã e vivo no ventre da mãe vida.
O Mestre de Nazaré, aquele que tem a eternidade no olhar e no coração ensinou que "se o grão de trigo caindo na terra não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto." A condenação de não morrer é o cárcere da solidão eterna, dado o fechamento para as possibilidades da vida.
A semente que não vingou, não pôde ir além de si mesma para dar frutos.
Certamente, não é nem um pouco agradável ter uma experiência de morte, e que o diga a semente.
Quando ela morre, abandona aquela forma de semente, fixa raízes na terra, cresce em direção ao alto e transborda em frutos.
Torna se uma árvore frondosa.
Seus frutos trazem em si sementes da vida e deram mais vida a alguém, mesmo passando pela experiência da morte, da transformação.
A mesma comparação aplica se às alegrias e tristezas da vida.
Sofremos com algumas tristezas, para que nossas alegrias sejam inteiras e múltiplas.
Isso me faz lembrar muito de Ricardo Reis, um dos personagens de Fernando Pessoa: "Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa, põe quanto és no mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive." Tiro a lição que humanizar se é um trabalho para a vida toda, que não pode prescindir dessas experiências de morte.
Uma ostra deve ser ferida para produzir pérolas.
A humanidade passa por essas experiências para descobrir a possibilidade de ir além de si mesma, para que possa ir fundo à razão de sua existência e se espantar que a vida vive e a morte morre, afinal, o espanto, a admiração, o silêncio frutuoso que precede à palavra falada, escrita e cantada é o alicerce da verdadeira filosofia, que é humilde, não se arroga sábia, todavia, busca a sabedoria e como Sócrates, sabe que nada sabe.