Regine Luise

Minutos depois, ele desligou o telefone.
Ainda estava sim com saudades, com vontade de vê la.
Mas é como se tivesse tomado um banho de água fria , e ficar pegando friagem assim só pode acabar em gripe (e das bravas).

O telefone deslizou pelo tapete, enquanto as palavras passeavam por sua mente e coração.
Uma mistura de raiva, tristeza, indignação.
Quase um mês de preparação para esse aniversário e agora (nas vésperas), uma surpresa dessa proporção.
Não, ele não podia acreditar (nem aceitar) que eles não passariam aquela data juntos.

É que passei dias e mais dias imaginando como seria o meu aniversário desse ano.
Como seria ter você na balada comigo e com meus amigos.
Já conseguia imaginar a gente dançando.
Toda atrapalhada, talvez sem nenhuma coordenação motora e até pisando no meu pé.
Mas eu já podia senti lá no calor do meu abraço.
Já podia ver você estranhando o ambiente e eu assegurando que não precisava ficar com ciúmes de nada (nem ninguém).

Na verdade, eu já podia até imaginar a gente dançando uma daquelas músicas que adoro e ouço várias vezes para pensar em você.
Parece uma bobagem.
Não é a primeira, nem a última balada que podemos ir na vida, mas estou me sentindo trocado pelos seus amigos.
E essa sensação, minha morena, é tristemente ruim.
Se você fosse trabalhar, eu entenderia melhor Mas Mas é que eu chamei até as suas amigas.
Que era para você ficar mais à vontade.

Fechou os olhos e um filme passou pela sua cabeça.
Tudo que tinham vivido até ali.
Indas e vindas.
Banhos de açúcar ou café.
Conversas, carícias, risadas.
Uma virada de ano e a promessa por um ano melhor.
Com mais amor, cumplicidade, atenção e afeto.

Antes de sequer imaginar conhecer você, eu já venho comemorando o meu aniversário pelas baladas e bares a fora por 5 anos consecutivos Então fiquei tão feliz por (pela primeira vez), você fazer parte dessa realidade.
De participar desse aniversário comigo, com os meus amigos.
Desculpa essa minha reação (totalmente sentimental), mas é que a gente nunca está pronto para tomar um banho de água fria.
Mesmo sendo gato escaldado.

O pior é que nem bravo o sentimento muda.
Nem bravo eu consigo deixar de pensar ou procurar você.
Mandar mensagens, ligar para ouvir a sua voz.
Acho que isso só simboliza o quanto fiquei dependente desse amor.
Dependente de você.
É claro que daqui até o dia do meu aniversário (muitas águas vão rolar debaixo da ponte), e provavelmente você realmente me surpreenda com alguma coisa É estranho pensar que isso me consola (de alguma forma).

Sei que daqui até o dia que vamos nos ver, essa raiva vai passar e só deixará lugar para a tristeza, a chateação.
Não pense que não tentei ver e/ou pensar pelo seu lado, já fiz isso Mas é que o meu lado alguém precisa ver também, não acha
Queria que lembrasse que passamos a virada de ano juntos, com os seus amigos.
Não hesitei muito em aceitar seu convite.
Acho que amar é isso, ceder, fazer as coisas para agradar o outro
Sabe que eu realmente tenho aprendido com você o que é um relacionamento de verdade.
Com você tenho me tornado um homem bem melhor.
A gente briga, separa, namora mas sempre volta sempre fica junto outra vez.

Mas essa sua reação realmente me pegou de surpresa.
Uma surpresa ruim por assim dizer
Peço desculpas de novo, se eu ficar distante, avulso ou sei lá É que passa um monte de coisa na cabeça.
Um monte de momento.
Um monte de sentimento.
Bem, essa carta não é uma briga.
Nem um desabafo propriamente dito.
Tem várias coisas que nem são ditas.
Tem várias coisas que a gente deixa passar ou que guarda dentro do peito.
Mas a ideia de ficar "brigado" com você me entristece.
Isso de sermos tão intensos (é ruim) por isso.
Porque vamos do pote de mel à xícara de café (e às vezes, está amargo demais)

Vou sim continuar chateado por você não ir na comemoração do meu aniversário na balada.
Vamos sim conversar (de repente até brigar por esse assunto), mas cada vez mais me convenço de que o meu sentimento por você cresce, cresce e cresce cada dia mais.
Às vezes eu rego, às vezes você, em outras parece que ele rega sozinho.
Não sei explicar, não consigo entender.
Só quero que se coloque um pouco no meu lugar.
Imagina se fosse eu viajando com os meus amigos no final de semana de comemoração do seu aniversário.
Dizem que pimenta nos olhos dos outros é sempre refresco.
Então pensa e depois me fala se arde ou não.
Ainda bem que você nem vai ler isso.
Porque são pensamentos soltos e confusos que podem ser mudados a qualquer momento.
Dizem que sentimento a gente não revisa né Por isso vou deixar assim mesmo e jogar no fundo da gaveta.

Por fim, apagou as luzes.
Olhou para a pelúcia que ganhou dela de presente, chorou, sorriu, dormiu.

Levantou, foi até a geladeira.
Dessa vez lembrou de pegar o maço de cigarro antes de se jogar no sofá da sala.
Colocou uma música qualquer (alta o suficiente para distrair os pensamentos), mas não o suficiente para aliviar aquela sensação de tristeza.

Guardou a carta na gaveta como quem guardasse um segredo.
"Palavra não dita vira borboleta e voa".
Continuou pensativo, chateado, mas com a certeza de que amava aquela mulher de verdade.
Do contrário essa chateação seria desnecessária.
Do contrário essa saudade seria pequena (e a vontade de vê la, abraçá la e beijá la), nem existiria.

Saudade é a prova de que foi tudo verdade.
Existimos.
Vivemos.
Eu e você.

A verdade é que o risco de te perder sempre foi uma constante.
E embora eu quisesse te manter por perto de alguma forma, tentarmos manter uma amizade colorida nunca foi o suficiente.
Colorida para mim, para você talvez mais fosse o preto no branco.
Ou o branco no preto, tanto faz.
O pior é saber que no fundo, no fundo, a culpa é minha.
Por não ter assumido você, por não ter dado uma chance para nós