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Rafaela Hipólito

Irmã, minha cabeça está cheia de coisas, tão cheia e confusa que não sei por onde começar.
Está melhor de que antes, mas não vou mentir, ele ainda está em mim, assim como nossas amizades compartilhas e coisas que apenas nós sabemos sobre nossa infância.
O tempo não está na idade e sim na forma que se encara os acontecimentos que passam por ele e que passam por nós e como devemos sustenta los, e talvez tenha mudado um pouco, não vou mentir, estou tentando ser eu mesma e é um processo que requer tempo.
Não me entenda errado! Nos imaginamos com características que são nossas, algumas pessoas conseguem alcançar e outras não.
Ainda tenho aquele sonho de me casar com um homem leal e verdadeiro que compartilhe não só as roupas, mas suas angustias.
Está difícil, e eu a invejo e a tenho como referência em minha vida, desde o nascimento de minha sobrinha, sem qualquer tipo de anestesia, até sua pureza quando ela veio ao mundo, te sinto absurdamente brilhante, suave, e serena depois de tudo, depois de ter te conhecido e convivido com você toda a minha vida.
Não tem como não lhe abraçar emocionada depois de tudo que passamos.
Acho que amadurecemos tanto, desde sempre, principalmente você.
Está tão serena comigo, sendo mais velha e menos insuportável, consigo te enxergar como nunca antes.
Me orgulho de você e de quem você se tornou e se tornará.
Sempre fomos opostas, o colégio que tanto queria, não conseguiu ficar, mas eu consegui, ficamos afastadas e você sempre diz que não deveria ter desistido.
Não importa, não notou que o que falta em mim, tem em você e o que tem em você, falta em mim O amor funciona dessa maneira.
Já passamos por muitas coisas e continuaremos a passar, mesmo distantes, sempre seremos unidos por um laço que ninguém é capaz de soltar.

ESQUECE! NA PRÁTICA MUDA
Esquece! A vida pode te ensinar melhor
Parece fala de mãe quando quer bem à sua família, mas é um ditado popular que se tornou frase e pode ter suas comprovações.
Sabe quando você faz algo de errado ou está feliz demais com algo que é impossível Depois, aparece alguém e diz que “não é assim que funciona”
Pois bem, o sonho impossível é conquistar o carro, mas carros funcionam igual, tecnicamente falando.
Sempre existe alguns diferentes, mas são padronizados.
Todo mundo fala do bem sempre, mas que saber Esquece! Na prática muda.
Você passa anos fazendo um curso que promove saúde e o que ele pode te promover é doença; um relacionamento que você apostou que te traria doença, te traz felicidade; o carro que você não sonhava em ter, apareceu na sua garagem como um laço; o carro que ia ser a solução de seus problemas, só fez aumenta los.
Esquece! Na prática muda.
A vida é completamente diferente de teorias, a vida é paradoxal, as pessoas também.
Isso me faz refletir o quanto é perigoso você acreditar em algo hoje em dia, porque automaticamente é contestável, tem provas e “o hindu que mora na montanha do Himalaia teve uma conversa com Zeus e disse que é mentira”.
Obvio, para mudar algo que você acredita.
Eu acredito que as pessoas acreditam no que elas querem e, mudam ou não quando acontece algo.
O Ser Humano muda, se desenvolve, e blábláblá.
A Hipocrisia está em toda parte beneficiando alguns, prejudicando outros e assim vai.
Se você é uma pessoa humanizada, tem que fazer por onde.
Você veste uma roupa camuflada de você mesmo e é proibido mostrar seu lado “obscuro” – definir obscuridade e no fundo é tudo uma brincadeira de criança: você, eu e outras pessoas sendo hipócritas sem querer ser, sem perceber ser, sem admitir que é.

Vou ser bem sincero, não posso terminar meu casamento.
São anos.
Disse André.
Você é casado Não vou perguntar porque você fez isso.
Camila fica surpresa com o inesperado, afinal, histórias ruins acontecem com outros e não com ela.
E em momento algum o colocou contra a parede.
Amedrontado, André tenta amenizar a situação já que a consciência pesa, quando a coisa fica séria demais.
Não, não! E tudo que vivemos Tudo o que eu disse foi sincero.
A emoção de Camila não é mais a mesma e se altera à insistência.
Sincero Sincero Me deixa sair do carro.
Você não vai sair do carro!
Abre a porta André.
Estou pedindo.
Ela sabe que a única coisa que nunca imaginou foi, sair com um homem casado.
A questão pra ela, nem era isso em si, mas a mentira que foi contada, se estendeu negativamente provocando uma bola sem controle.
Não vou deixar você sair, não.
Você vai atrás da minha mulher!
Aos risos, Camila perde a paciência que ainda lhe restara pra sair daquela situação, não querendo comprometer qualquer dano pra ambas as partes, porém André não colaborara muito.
Não acredito! Abre a porta do carro, agora!
Não! Não! Fica! Só me escuta, por favor.
Tem que haver uma solução, gosto de estar com você.
Depois do ocorrido, preferiu pegar um táxi a andar sozinha pela Rua.
Apesar de não estar bêbada e, sua juventude lhe permitir uma boa caminhada de reflexão, sua cabeça girava, seu corpo estava fraco e a qualquer momento, poderia sentar e deitar em qualquer calçada.
É, nem sempre os romances são romances, até para as mentes mais abertas.
É aquela história, “com outro, comigo não” e, mesmo que não admitisse isso, sabia que no fundo se considerava especial demais pra, lidar com uma situação a qual imaginou estar, mas nunca em fatos e realidade.
A típica conversa casual e descolada entre amigas, lhe fez colocar um pensamento um tanto quanto contrário a sua percepção de amor e família e, pior de que acreditar em algo é, ter a incerteza que a certeza das coisas não se resolvem numa conversa entre amigas solteiras e desesperadas.
Sabe o que eu queria Os clichês.
Viajar no tempo, mudar o meu passado e principalmente, a noite passada.
Não queremos mudar as coisas, digo as pessoas, queremos mudar o que as situações nos provocam de ruim depois do acontecimento.
Porque é tão ruim ficar com situações dentro do peito que só vão embora depois de um tempo Lógico que queria sentar e, merecer alimentos gostosos, mas nada me entra.
Não gosto de trapaças, o jogo é mais fácil, a brincadeira, porém a vida real é mais difícil rir.
Eu, Camila, sei muito bem o que é estar em um jogo, apostar e perder de verdade.
Perder expectativas, sonhos e a própria integridade.
Até onde eu fui, pra provar nada E não existe nada mais trágico de que perder no amor.
Prefiro perder minhas moedas em um jogo de parque de diversões infantil sem fiscalização de que, acreditar mesmo que um homem casado, falasse algo, sem que omitisse ou mentisse de fato, sobre algumas coisas ou tudo.
Posso ser bem sincera Nessas horas, amizade só serve pra ouvir e espalhar pra quem puder saber.
A não ser que peça pra jurar segredo!
Mas pra quê jurar segredo, se pensava que não estava fazendo nada de errado Me sinto errada, por pensar que pensam que eu sabia que sempre fora casado!
Deus!
Que esses erros me rendam boas experiências, porque desconfortos, minha gaveta está transbordando.

Casal perfeito por que eram completude.
Básico, nada demais.
Amadureceram juntos.
Nas questões mais impares, traçavam alguma forma de melhorar sem ofender.
Portas a bater, alterações de voz, mas nada suficientemente cheio de furor para ambos se despedirem um do outro.
E a vontade era essa, não existia outra igual.
Quando as coisas apertavam, um ano era suficiente para se organizarem, ambos, nos seus respectivos empregos.
Sem roupas, repetir, até que tudo volte ao normal.
Diminuir a quantidade de alimentos desnecessários e comer o fundamental, até tudo voltar ao normal.
E voltava.
Decidiam se ficavam em casa ou viajavam para um lugar próximo.
E a viagem era boa antes de voltarem a fazer os velhos afazeres.
Eles dois
Eles dois eram dois insuportáveis, iguais em alguns pensamentos, principalmente nisso de completude Nisso de que o amor é básico, simples, nada demais.
Frio na barriga para quê Quando a conta de luz está atrasada e algum dos dois vai ter que olhar no tempo, dia e hora, se está adequado para levar falta e bronca do chefe.
Isso era o mínimo pelo menos, por isso não haviam desculpas, muito menos brigas.
Agradecimentos nestes momentos de realidade doméstica eram fundamentais para tudo andar, e fluir normalmente.
Melhor de que passar um ano sem comprar roupas de etiqueta conhecida, era festa em um sábado no bar ao redor de amigos e, rir sobre piadas sem sentidos, filhos que não existiam e brigas sobre a política brasileira.
O mundo para os homens é o alvo para mesas de bares e cervejas serem ameaças de serem levadas ao ar, claro, com muito entusiasmo, abraços e pedidos de perdão com lágrima de alguém devidamente bêbado.
Mulheres riam ou se desesperavam ao verem seus partidos enfrentando homens maiores que eles.
Não era esse tipo de casal que você está pensando, básico, simples demais.
Eles eram completude até se separarem.
Na adolescência, deixar ir era frase com significado das borboletas, depois dos vinte, a coisa é mais séria.
Parece monte de papel de escritório que precisa e deve ser resolvido em uma semana.
Depois dos vinte, não pode haver desculpa quando se conhece os pais, os primos, a família, parentes de primeiro e segundo grau.
Depois dos vinte, até mesmo para brigar tem que ter consenso.
Pensares Muito pensar.
Porque depois da briga, alguém tem que sair e bater à porta e outro tem que ficar, esperando a volta.
Não sei o que seria pior, virar mendigo ou alguém vazio.
Então, eles brigavam normal.
Com gritos sobre a roupa, pagamentos
E risos, muitos risos, vários risos a noite ou em qualquer momento que os deixassem longe o suficiente de histórias e acontecimentos parecidos.
É! Parecia namoro.
Inicio de paixão.
Sem borboletas ou nervosismo.
O desespero era outro, antes fosse de iniciar amar.
A loucura é deixar de amar e ouvir um abandonar ar, ar.
Com eco de caverna dentro do coração.
Eram muitos risos.
Mãos dadas e planos que não era planejados, porque sendo completude já sabia a falta e o transbordo do outro.
Eles eram inteiros.
Mesmo com amigos e alguns de seus ciclos sociais diferentes, nunca era a mesma coisa.
O alivio era saber que vagando a pé ou no ônibus as doze horas depois de jantar, a porta estaria lá, a luz estaria lá, a cama estaria lá, a toalha estaria lá.
Então eles se tornaram completude mesmo, sendo individuais.
E foi simples, foi básico ser um para o outro.