R.M. Cardoso

SEGREDOS
Consumo
um
fardo
de horas
tentando
domar
teus
medos,
desatando
enigmas
e investigando
manhas,
no ardente
e doido
intuito
de romper
os teus
segredos.

PAISAGEM SERTANEJA
Sonâmbulo,
o vento
se movia
entre
as plantas
do quintal.
As aves
dormiam
nos poleiros.
Das nuvens
escorriam
uns
resíduos
de inverno
Livremente,
um
verso
prosperava,
simples
e terno.

NAMORO NA ROÇA
Na roça o namoro é bom
Se tiver muito chamego
E se a "nega" disser, com
Dengo: Eu quero mais, meu "nego".
É um grude, é um apego
É a voz quase sem som
É chamego sem sossego
E sempre no mesmo tom.
Nesse ardente chamegar,
Esse casal lá da roça
Vê a família esticar.
E, depois de alguns aninhos,
A gente vê, na palhoça,
Mais de seis barrigudinhos.

CONTRASTE SOCIAL
Sob a ponte de concreto,
Anônimo, Pedro mora
Com a mulher e três filhos,
absorvendo a fetidez
De moluscos e crustáceos
Putrefactos, poluídos.
Semblante ácido e apático,
Olhos mórbidos e anêmicos,
Como um sintoma hepático!
E, no estômago erosivo,
Se amontoam vermes ávidos! ..

FIM DE ESPETÁCULO
Desfez se
o espetáculo,
desfez se
a euforia!
Nos seus
olhos
de festa
(agora
desolados),
há
um
prelúdio
de ilha!

TROVA 157
Recordo o primeiro beijo
Na primeira namorada:
Eu fervendo de desejo,
Ela trêmula e acanhada!

TROVA 154
A amizade é fragrância
Que se deve conservar,
P'ra que, perto ou na distância,
Nunca deixe de exalar

DISTONIA
Desabitado
de sonhos
e otimismo,
desligado
da vida
e de tudo,
circundado
de ruínas,
inerte,
apodrecia
enclausurado
no ostracismo.

TROVA 97
Não tem encanto a jornada
Nem alegria, sequer,
Se com o homem, na estrada,
Não seguir uma mulher.

SAFRA
Com
o semear
dos sonhos,
o cultivo
da esperança
e a safra
da alegria,
abasteço
de alimento
minha
fé
e a poesia

SAFRA
Com
o semear
dos sonhos,
o cultivo
da esperança
e a safra
da alegria,
abasteço
de alimento
minha
fé
e a poesia.

TROVA 137
Quantos amores, outrora!
Iludi, fui iludido
Mas felicidade mora
Só no amor correspondido.

A FELICIDADE É UMA FESTA PARA POUCOS CONVIDADOS.

TROVAS 68/69
O coração 'stou errado
É venturoso ou sofrido!
Ventura quando é amado
E sofre quando iludido!
Os espinhos do viver
Nos ferem e causam dores,
Se alguém esmorecer,
Nunca colherá as flores.

TROVA 66
No coração inconstante
Não floresce a afinidade.
Nele, o amor é tão minguante,
Sem qualquer prosperidade.