Mamãe vestida de rendas
Tocava piano no caos.
Uma noite abriu as asas
Cansada de tanto som,
Equilibrou se no azul,
De tonta não mais olhou
Para mim, para ninguém!
Cai no álbum de retratos.
Me insinuarei nos quatro cantos do mundo, Vibrarei nos canjerês do mar, Almas desesperadas, Eu vos amo.
Almas insatisfeitas, ardentes.
Detesto os que se tapeiam, Os que brincam de cabra cega com a vida, Eu odeio os homens práticos
Eu sou triste como um prático de farmácia,
sou quase tão triste como um homem que usa costeletas.
Passo o dia inteiro pensando nuns carinhos de mulher
mas só ouço o tectec das máquinas de escrever.
Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Nem ama duas vezes a mesma mulher.
Deus de onde tudo deriva
E a circulação e o movimento infinito.
Ainda não estamos habituados com o mundo
Nascer é muito comprido.
O utopista
Ele acredita que o chão é duro
Que todos os homens estão presos
Que há limites para a poesia
Que não há sorrisos nas crianças
Nem amor nas mulheres
Que só de pão vive o homem
Que não há um outro mundo.