É próprio da vaidade o dar valor a muitas coisas que o não têm, e quase tudo que a vaidade estima é vão.
O aplauso é o ídolo da vaidade, por isso as ações heroicas não se fazem em segredo, e por meio delas procuramos que os homens formem de nós o mesmo conceito que nós temos de nós mesmos.
Poucas vezes se expõe a honra por amor da vida e quase sempre se sacrifica a vida por amor da honra.
A vaidade é cheia de artifício e se ocupa em tirar de nossa vida e da nossa compreensão o verdadeiro ser das coisas.
O engano vestido de eloquência e arte atrai e a verdade mal polida nunca persuade.
Fazemos vaidade de errar com sutileza e temos pejo de acertar rusticamente.
Contra o nosso parecer nunca achamos dúvida bastante, contra o dos outros sim.
A vaidade é engenhosa em glorificar tudo que vem de nós, e em reprovar tudo que vem dos outros.