Quando trasnformamos nossos sofrimentos em ideias, eles perdem um pouco o poder que tê de ferir nosso coração.
O nosso eu é edificado pela superposição de estados sucessivos.
Mas essa superposição não é imutável, como a estratificação de uma montanha.
Levantamentos contínuos fazem aflorar à superfície camadas antigas.
Talvez a imobilidade das coisas ao nosso redor lhes seja imposta pela nossa certeza de que tais coisas são elas mesmas e não outras, pela imobilidade de nosso pensamento em relação a elas.
Sonhamos demais com o paraíso, ou ao menos com uma série de paraísos sucessivos, mas cada um deles é, muito antes de morremos, um paraíso perdido, no qual devemos nos sentir perdidos também.
Os dados reais da vida não têm valor para o artista, são unicamente um ensejo para manifestar o seu génio.
Não era o mal que lhe dava idéia do prazer, que lhe parecia agradável; era o prazer que lhe parecia maligno.
Preenchemos a aparência física do ser que vemos com todas as noções que temos a seu respeito, e, para o aspecto global que nos representamos, tais noções certamente entram com a maior parte.