Inquietude
A espera é distante
resmunga um homem em seu leito
a ansiedade roubou lhe o sono
mas não tirou lhe a esperança
suplício
outra procela está por vir
tem pesadelos desperto
silenciosos tormentos
seu olhar perdeu a avidez
empalideceu febril
adormece
Libertino
Minha elegância de maneiras
oculta desejos impuros
por prazeres carnais
obscenos
Tenho um jeito lascivo de amar
um jeito devasso de possuir
sem pudor e decência
libertino
FLOR MORENA
Vá flor morena, vá!
Embala te nos abraços
da mulher que te gerou
E nana!
Nana flor morena, nana!
São Cosme e São Damião
hão de vigiar o teu sono
E sonha!
Sonha flor morena, sonha!
Pois a candura dos seus sonhos
tem a beleza de um Querubim
Agô meu pai
O soluçar do tambor
faz o gemido de um cântaro vazio
lúgubre, lamurioso e triste
Sua epiderme magoada
segrega a seiva bílis encarnada
dos golpes do açoite
Palpita forte e sensível
invocando o velhusco negro
adormecido no seu oco
Agô meu pai!
Porto cinzento
A tonalidade cinza
e melancólica
dos seus monumentos
ornados de lavores
tem a intensidade
de um fado dolente
a obscuridade do luto
e da mortificação
Lua cheia
A lua reluz ardente
por um jovem pescador
que nas noites de lua cheia
é poeta trovador
A lua se desnuda da noite
e vai repousar em seu leito
o pescador não desperta
o seu mar tem a cor dos sonhos