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J.W.Papa


A vida moldou me na pancada,
tornei me plástico, maleável, flexível!
Não manipulável.
Adaptei me e evolui,
na medida em que a vida me sovava feito pão.
Depois de um tempo nesse estado, parecia falar outra língua.
Algumas coisas pareciam tão distantes
para os que não podiam ver o mundo de onde o via,
tudo parecia distante daquele mundo ínfimo que fui um dia
tudo era tão iminente, que parecia uma catarse
uma inevitável catarse, mais dia ou menos dia.
Nadava na lama e era tão feliz, que podia enxergar além dali
além daquele pequeno mundo, fechado e sem mobilidade
àquela altura, já era alguém além dali, livre de ser igual a todos
nem melhor nem pior, mas podia ver antes de todos
muito além da superficialidade que corrompia o intelecto de todos ali.
Em meio a toda aquela lama,
a voz na consciência que gritava todos os dias:
Evolui dai e voa!
Voa daí e evolui.
Voa, evolui daí.
Aprendi a ser tolerante, sendo tolerante
e a respeitar, respeitando
não haviam outras opções na ocasião,
desde muito cedo,
ou era assim ou era assim.
E se hoje sou capaz de enxergar
a alma das pessoas
e ver nelas o que nelas há de melhor,
mesmo que isso não pareça tão evidente num primeiro olhar
é porque a vida evoluiu me a ponto de tal.
Depois de estar tanto tempo fechado em si mesmo,
não é tão difícil sair, na verdade é um grande prazer sair
e encontrar o mundo escancarado,
ofertando tantas possibilidades de ser o que se quiser ser.
E apesar de ser bom estar dentro, é ainda muito melhor do lado de fora.
Evolui dai e voa! Voa daí e evolui! Voa, evolui daí.

A Formiga, mais ou menos uns dez Pingos d'água e Eu
Num dia desses
De previsão do tempo em desacordo
e céu azul e nuvens brancas,
dando formato a imagens de sonhos
e sol brilhante e sombra boa,
projetada em rumo de árvore grande
[pé de um trem qualquer]
plantada no asfalto da cidade
ou na terra do campo.
E de repente a chuva
Que desaba sem aviso antecipado,
desabrigando os descuidados
tomando ligeiro os caminhos
e ocupando se de preocupar
os videntes de desenhos em nuvens!
Tratando de por ritmo nos passos moles
escaldados e amolecidos pelo sol quente,
tratando de apressar as aves
em seus vôos solos pelas quinas do céu,
tratando de acordar os lagos e de viver os peixes
e tratando de matar a sede da terra que agradecida
empurra à superfície, as plantas
Expondo suas folhagens verdes
seus frutos vistosos
e suas inspiradoras flores perfumadas.
Feito chefe em dia de súbito descontentamento,
ralha aos quatro ventos, a chuva que cai do céu.
Num protagonismo invejável!
Só as formigas se incomodam mais
As gotas d'água,
feito flechas lançadas contra elas,
do alto, sem escrúpulos ou piedade
fazem pesar ainda mais o seu árduo trabalho diário.
Três estrelas ancoradas no céu
calçando a lua
em uma nuvem qualquer,
e uma rajada de vento soprada de lá para cá
na contramão da dança dançada a favor da chuva,
faz ir embora a nuvem escura carregada de raios
que entopem o céu de desespero.
Três dessabidos destinos,
encontram sentidos
em um sentido qualquer:
A Formiga Desenrasca o pão do jeito que dá!
A Chuva Se diverte com a farra toda!
E Eu Transformo em tempestade nem dez gotas d'água caídas sobre mim!

Qualquer gato
No seixo rolado do pátio escorrega um gato preto, de olhos cor de caramelo.
Enquanto fita entusiasmado meus movimentos, se esquiva do vento
que se contorce por todos os lados.
Desarmado, fito (eu) o gato preto, pardo, branco, malhado
Amedrontado, não o perco de vista um segundo sequer
acompanho lhe todos os movimentos projecionados.
Gato é bicho misterioso!
Cheio de segredos, anda lentamente
Altivo, exploratório e destemido.
No fundo, temo que ele não me entenda, e não compreendendo me o motivo de meu temor
apreenda meu medo e passe a agir como agiram os gatos anteriores
fazendo me temer a todos generalizadamente.
Lembro me de sua personalidade 'sempre' doce, e também, de seu agir genioso.
Engenhoso, guarda (ele) a dimensão do assombro
percorrendo o mundo no limite da percepção humana.
Escala nas noites escuras:
Os telhados úmidos, os muros duros, os entremundos
Enquanto guarda me o sono.
De aguçados sentidos, percebe antes de todos os possíveis riscos.
Antecipa se quase sempre, assustadoramente, como se antevisse uma visagem ainda invisível
e com o pêlo do corpo ouriçado, e as enormes unhas arregaladas feito facas, põe se pronto a reagir.
Vive no mundo sensível, guardando o tempo e as possibilidades
com habilidade segue tateando o mundo
semeando amor e medo.
Só não me atrevo a deixá lo cruzar me o caminho!
Temo que ao cruzar me o caminho roube me a sorte, e traga me sete anos de azar.
Corro feito corre a chuva caída nos rios o mais depressa que posso.

Por deus, o que vocês estão fazendo
Lá por dentro, resolvi mudar!
Assim como muda de tempos em tempos o curso dos rios
sequei por fora e agora
não corro mais tão vigoroso para o mar.
Sigo a espera das águas de março
dos moinhos de vento
dos temporais fora de época
do milagre, que já não consigo mais ser.
Agora, apenas escorro pouco a pouco sem pressa
por entre as frestas das diversas pedras no caminho.
Em inconformidade com o mundo
escorro dos olhos da menina ainda adolescente
procurando um sentido só seu
e sem a interferência do caos externo ao redor.
Aqui por dentro sigo inundado, tantos tsunamis (maremotos)
Vagueio pelos subsolos da vida sem me assustar.
Aqui por dentro não falta nada, tudo está em excesso
e até a felicidade quando resolve aparecer, transborda.
Só que agora, as lágrimas que caem dos olhos
não são mais de felicidade, de tristeza ou algo assim
A vida endurece uma pessoa!
Os olhos antes tão doces e inocentes trincaram.
A dor rachou o peito e fugiu de lá de dentro.
As palavras desencantaram dos lábios
murcharam feito palavrões e caíram da boca feito dinamite.
O frio não incomoda mais o corpo, já tão surrado
e a pele está endurecida feito couro de búfalo.
A vida humana agora não tem qualquer valor.
As guerras varrem territórios inteiros
transformam sujeitos em refugiados, extinguem os seus direitos
afogam as crianças no mar.
Os valores humanos perderam seu sentido
os poemas passaram a ser escritos com fuzis
granadas de mão e metralhadoras ponto cinquenta.
As armas usadas agora são a crueldade
o fundamentalismo (religioso) e a covardia desenfreada.
Por deus, as crianças são anjos! Anjos.
O que vocês estão pensando