Me afoguei em você um dia desses.
Imaginei a água morna serpenteando nas curvas da sua face, virando uma queda d’água no seu queixo, e eu hora me afogando, hora flutuando.
Me afogando.
Fluindo nas poças acumuladas em suas covinhas, nessas que quis me enterrar até sumir dentro de você.
Procurei por ar em todas as coisas que nunca tivemos, nos míseros momentos em que, sãos, deixamos o tempo abraçar nos, e os acasos desfazerem, com desamor, o nosso amor.
Continuei ali, me afogando.
Por cada beijo na ponta do seu nariz que reservei, e reservados permanecerão.
Por cada enrubescer das suas bochechas ao me ouvir suspirar seu nome de lado no travesseiro.
Por cada noite daquele verão agridoce, adocicado.
Certo dia me afoguei em você.
Com você, por você.
Contei, ainda que por pouco tempo, cada gota, cada pingo de chuva que molhou a nossa terra, mas não floresceu nenhuma flor, a nossa flor.