DIREITO
Sempre acreditei demasiado na força das palavras.
Sempre acreditei que os nossos pensamentos nos levam aonde quer que queiramos, e que basta ter perseverança para alcançarmos os nossos sonhos, pois o único direito que não nos foi dado é a desistência.
Foi com esses ideais que comecei a escrever esse texto, vez que tenho visto por aí inúmeras chacotas envolvendo estudantes e profissionais do Direito, algo como "por que se chama Direito se está dando tudo errado " ou "Aí você se forma, não é mais estagiário e ainda não passou na OAB, o que você é ", "Por que eu fui estudar Direito! ", entre outras tantas que me fariam ficar nesse parágrafo até o fim da Faculdade.
Amigo leitor, não quero ser falso moralista, tampouco tenho pretensão de convencê lo acerca dos meus erros ou acertos, de modo que às vezes também rio dessas frases, às vezes até as compartilho em tom de gozação, mas eis que descubro a trama ardilosa do desânimo que isso pode causar lá dentro dos ideais, pois se é certo que as palavras têm poder, não ganhamos nada em desmerecer a nossa escolha, ainda que por mera brincadeira.
Lembro me dos primeiros passos que dei na jornada do Direito, a primeira vez que li o art.
5º da Constituição, que, com a ajuda do professor, fez surgir interpretações que não estavam estampadas no texto, mas guardadas para aqueles que se debruçavam sobre elas.
E tantos sonhos que nutria, e ainda nutro, de ser um grande jurista para poder ajudar quem precisa e fazer a diferença.
Sim, pode soar piegas a última frase do parágrafo acima, mas é esse o meu mapa do maroto: "poder ajudar quem precisa".
E é justamente essa meta que a gente vai perdendo no decorrer dos anos, é justamente essa utopia que vai se desfazendo no horizonte enquanto ficamos presos a encarar somente o lado negativo dos desafios.
Vamos nos tornando individualistas demais, pessimistas demais.
Sempre comento com meus amigos, pelos corredores da Faculdade de Direito, que a nossa escolha não é para qualquer um.
É preciso ter gana por vitória para vencer o curso e não apenas cumprir a hora, é preciso ter sonhos para superar a longa caminhada que se apresenta e, sobretudo, acreditar que é possível ser melhor, não melhor que os outros, mas melhor que nós mesmos.
Não podemos deixar essa chama apagar dentro da gente, de verdade, se é Juiz que queremos ser, corramos atrás desse sonho, essa é a hora! Se é Promotor, Desembargador, Ministro, Advogado, Professor, seja lá qual for o sonho que você, leitor, nutre, não o deixe se perder em frases desanimadoras sobre a carreira, porque ao final quem se perde somos nós mesmos, e então seremos apenas mais um
E quanto às respostas para as perguntas do começo do texto ("por que se chama Direito se está dando tudo errado " ou "Aí você se forma, não é mais estagiário e ainda não passou na OAB, o que você é ", "Por que eu fui estudar Direito! "), ninguém melhor que você para encontrá las.
E na mesma toada de Tércio Sampaio, despeço me desse texto para ir às aulas de sexta feira à noite na Faculdade de Direito: “o encontro com o direito é diversificado, às vezes conflitivo e incoerente, às vezes linear e consequente.
Estudar direito é, assim, uma atividade difícil, que exige não só acuidade, inteligência, preparo, mas também encantamento, intuição, espontaneidade.
Para compreendê lo, é preciso, pois, saber e amar.
Só o homem que sabe pode ter lhe domínio.
Mas só quem ama é capaz de dominá lo, rendendo se a ele.”