Os Animais Carnívoros
Dava pelo nome muito estrangeiro de Amor, era preciso chamá lo
sem voz difundia uma colorida multiplicação de mãos, e aparecia
depois todo nu escutando se a si mesmo, e fazia de estátua durante um
parque inteiro, de repente voltava se e acontecera um crime, os jornais
diziam, ele vinha em estado completo de fotografia embriagada, desco
bria se sangue, a vítima caminhava com uma pêra na mão, a boca estava
impressa na doçura intransponível da pêra, e depois já se não sabia o
que fazer, ele era belo muito, daquela espécie de beleza repentina e
urgente, inspirava a mais terrível acção do louvor, mas vinha comer às
nossas mãos, e bastava que tivéssemos muito silêncio para isso, e então
os dias cruzavam se uns pelos outros e no meio habitava uma montanha
intensa, e mais tarde às noites trocavam se e no meio o que existia agora
era uma plantação de espelhos, o Amor aparecia e desaparecia em todos
eles, e tínhamos de ficar imóveis e sem compreender, porque ele era
uma criança assassina e andava pela terra com as suas camisas brancas
abertas, as suas camisas negras e vermelhas todas desabotoadas.