Fernando Pessoa

Correr riscos reais, além de me apavorar, não é por medo que eu sinta excessivamente perturba me a perfeita atenção às minhas sensações, o que me incomoda e me despersonaliza.

Um homem de gênio é produzido por um conjunto complexo de circunstâncias, começando pelas hereditárias, passando pelas do ambiente e acabando em episódios mínimos de sorte.

O provincianismo consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte do desenvolvimento superior dela em segui la pois mimeticamente com uma insubordinação inconsciente e feliz.

Outrora eu era daqui, e hoje regresso estrangeiro,
Forasteiro do que vejo e ouço, velho de mim.
Já vi tudo, ainda o que nunca vi, nem o que nunca verei.
Eu reinei no que nunca fui.

Ser imoral não vale a pena, porque diminui, aos olhos dos outros, a vossa personalidade, ou a banaliza.
Ser imoral dentro de si, cercada do máximo respeito alheio.

Nenhuma ideia brilhante consegue entrar em circulação se não agregando a si qualquer elemento de estupidez.
O pensamento colectivo é estúpido porque é colectivo: nada passa as barreiras do colectivo sem deixar nelas, como real de água, a maior parte da inteligência que traga consigo.

O povo nunca é humanitário.
O que há de mais fundamental na criatura do povo é a atenção estreita aos seus interesses, e a exclusão cuidadosa, praticada sempre que possível, dos interesses alheios.

O Homem é do tamanho do seu sonho.

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

O que me doí não é
O que há no coração
Mas essas coisas lindas
Que nunca existirão

Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira.
Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é.

O que me dói não é o que há no coração, mas essas coisas lindas, que jamais existirão

Saudades, só portugueses/ Conseguem senti las bem/ Porque têm essa palavra/Para dizer que as têm.

Nós nunca nos realizamos.
Somos dois abismos um poço fitando o céu.

Não é o tédio a doença do aborrecimento de nada ter que fazer, mas a doença maior de se sentir que não vale a pena fazer nada.