Eu não peço esmola, eu peço abrigo afetivo de verdade.
Queria mesmo é que você parasse pra perguntar como foi o meu dia.
Ouviria as suas histórias e te pintaria nos meus escritos.
Esboçaria um pouco dos teus olhos e das olheiras, que é pra te dar um ar humano, e reconheceria suas falhas no papel.
Me pinta em aquarela pra me dar vida
Não entende e me olha como se passasse por mim na rua, como se a vista do horizonte fosse maior que eu, como se eu fosse uma alegoria trançada num adorno qualquer.
Tudo bem, sou precavido, tenho levado o meu há anos a fio quando aprendi que a gente tem que se embalar na gente senão a coisa toda despenca.
Só vem um dia e me tira dessa cidade perdida, dessa confusão que implica em me deixar com dois cigarros na rua e uns pensamentos que cortam, me tira desse conformismo absurdo e me afunda.
Mas olha, eu faria do meu escuro um lugar bonito pra você me visitar.
Limpo tudo e deixo as coisas boas em cima dos móveis e um porta retrato de nós dois.
Não precisa vir hoje ou nem amanhã.
Me tira daquele meu apartamento monótono que só faz de mim prisioneiro de alguma coisa apática, de uma vida que eu jurei pra mim mesmo que nunca viveria antes de guardar meus sonhos no baú e sair por aí vivendo o que a gente chama de vida.
Promete pra mim que me escreve Descreve, me escreve no papel, me rabisca um pouco pra eu sentir que não sou imaginado no mundo.
Foi bom, tô bem, eu digo.
Bom e bem são sinônimos de toda crise interna que a gente não consegue afugentar, não acha
Eu teria curiosidade em te conhecer abertamente.
Te levaria prum quarto parado numa estrada qualquer pra te devorar.