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Daniel Bovolento

De verdade, meu bem, eu não acredito que você exista.
Mas cheguei à conclusão de que, se não for por amor, que seja por você.
Que eu te encontre num dia ensolarado, nublado, chuvoso, com névoa e te diga alguma coisa.
Que eu te reconheça no momento exato em que puser meus olhos em você.
E que você saiba que houve um encontro ali.
Que você esteja vestida de vermelho, amarelo, azul, verde, preto e branco.
Que você me ache engraçadinho, pelo menos.
Quem sabe tímido, quem sabe babaca demais, quem sabe charmoso, quem sabe eu nem te chame a atenção.
Mas que você me veja com bons olhos e eles encontrem os meus.
Que eu acerte a cor dos seus olhos numa brincadeira qualquer.
E que aí você perceba o quanto eu te enxergo em tão pouco tempo.
Que você seja amiga de algum amigo, ou a gerente do banco, ou a colega de faculdade, ou a menina bonita da balada, ou filha da amiga da minha mãe.
Que você se encante comigo de alguma maneira.
Que você se permita me conhecer melhor e saber que eu sou legal, ou que sou interessante, ou que não tenho nada a acrescentar a você, ou que eu sou um completo egoísta, ou que eu tenho um blog bacana que fala dessas coisas bonitas que as pessoas acreditam.
Mas que você não seja um ponto final.
Que seja as aspas, as reticências, o parágrafo, o travessão.
Que você seja.
Que você saiba como eu sou complicado, ou que eu sou desajeitado, ou que eu sei dançar muito bem, ou que eu piso no seu pé porque não sei andar em linha reta, ou que eu detesto o cheiro de queijo ralado.
Mas que você decida ficar e me conhecer mais, seja por curiosidade ou porque acha que pode se encontrar no meio da minha bagunça.
Que a gente se conheça aos poucos, aos muitos, aos tantos, aos beijos, aos toques, aos olhares, aos filmes de fim de tarde, aos cheiros de perfume novo, aos dias de dormir de conchinha, aos minutos de ligações intermináveis.
Que você possa contar comigo, possa dormir comigo, possa brigar comigo.
Que você não se arrependa naqueles momentos em que a gente questiona o amor, que você tenha orgulho de me mostrar pras suas amigas e que elas tenham inveja de você.
Que eu possa te trazer café na cama, te dar um beijo de surpresa, te ver sem maquiagem, te morder até você ficar sem graça.
Que eu não seja odiado pelos seus pais, que eles não me chamem de filho, que seu irmão torça pro mesmo time que eu.
Que você me queira como pai dos seus filhos, que você se orgulhe de mim, que você esteja linda quando entrar na igreja.
Que eu possa te fazer sonhar.
Que eu possa realizar os teus maiores sonhos e te consolar caso alguma coisa dê errado no meio do caminho.
Que eu não saia nunca do seu lado, nem quando você pedir.
Que os seus dias de TPM sejam lembrados com risadas e justifiquem aqueles quilos a mais que você ganhar com o brigadeiro.
Que você chore bastante.
Chore de rir, chore de saudades, chore de alegria.
Que eu possa garantir que você não vai se machucar.
Que o nosso filho tenha os seus olhos, a sua boca, o seu nariz.
Que ele me lembre todos os dias de você.
Que a gente caia um pouco na rotina e não mude por isso.
Que a gente saia da rotina e se encante com algumas aventuras de vez em quando.
Que a gente saiba reconhecer o valor da companhia do outro.
Que eu te ame como nunca amei ninguém e que você me modifique da maneira que o seu amor quiser.
Mais importante que isso tudo: que você exista.
E que não demore tanto pra chegar na minha vida.

Você não merece que eu fique pensando com cuidado se vale a pena ou não te chamar pra fazer alguma coisa, não merece que eu não sinta pelos outros o que eu tô sentindo por você.
Não merece que eu atenda correndo o telefone ou vibre com ele a todo momento achando que é você.
Você não merece que eu compre um vinho e te peça uns queijos e saia mais cedo do trabalho e corra pra pegar um táxi e suba as escadas ofegante e abra o meu armário e prometa me arrumar rapidinho, em 10 minutos eu tô no metrô, eu juro e, quando volto pra olhar a mensagem, você já não pode mais.
Você nunca pode.
Você não merece um texto meu.
Todo mundo que já passou pela minha vida, até quem só marcou um cinema comigo mereceu.
Mas você não.
Te dei logo um livro inteiro que eu guardei na gaveta feito a música da Clarice, porque ninguém ia ler um livro sobre uma pessoa só, ninguém leria um livro sobre mim e sobre como tudo o que eu fiz foi sentir falta de você durante alguns meses e algumas semanas até que parou.
Parou de responder e parou de fazer questão.
Antes você me mantinha ali do lado e só Deus sabe como a gente reza pra que vocês não soltem a gente, pra que vocês mantenham a gente ali por mais um tempo até dar hora da gente dar a volta por cima e recuperar vocês.
Não existe essa hora.
É tudo mentira.
A gente sabe desde o começo que essa hora nunca iria chegar, mas fingi que não sabia.
Finjo diariamente, talvez por me sentir menos enganado quando vem de mim, talvez pra me sentir menos bobo por ter apostado no azarão, por ter entrado no Titanic depois de ter visto o filme umas trinta vezes.
Nunca entendi a graça de manter a gente num faz de conta de romance que não vai nem até a página 15.
Se bem que no meu livro ele vai.
15, 30, escrevi 192 página de como você me matou aos poucos só pra no final dizer que você não me merece.
Você não merece que eu ouça essa música e pense nas primeiras vezes, nos outros erros e fique analisando tudo pra entender o que eu podia ter feito de diferente.
Ninguém merece.
Você é só mais um deles.
Só mais um cara que não me merece.
Sabe o que eu deveria fazer Eu deveria dar as costas e apagar a porra dessa luz, trancar a porta e te deixar no escuro sentindo tudo o que eu senti.
Deveria esconder a chave e visitar você de vez em quando, trazendo comida e deixando o afeto do lado de fora.
Ele não entra, pelo menos nunca entrou com você.
Eu deveria fazer tudo o que você fez comigo, mas deixa pra lá.
A essa altura do campeonato, você também não merece isso.