Sem adeus.
Tenho sentido seu pai distante, indo embora de mim.
Resisto à tentação de pedir que ele fique.
Não devo não devemos.
É hora de ir e deixar em mim o que precisa ficar.
Como eu previa, as lembranças já não são frescas.
É uma alegria e um alívio ter escrito.
Distante da intensidade, por vezes acho pouco o que sei dele.
Que sorte haver amigos e amor para me mostrar um tanto mais.
Inevitável: você também fará isso.
Nesse tempo todo de falta, procurei o costume como saída.
Fiz da ausência um hábito, até que ela virasse paisagem.
Mas de vez em quando entra um vento de dor por uma fresta insuspeita, atingindo minha pele com um frio de tristeza.
Talvez eu sinta para sempre esses arrepios como quem tem uma doença crônica.
Um reumatismo de amor que de vez em quando finca e maltrata.
Depois passa.
E volta – não há como virar uma página que insiste em crescer de novo diante dos meus olhos.
Que insiste em se reescrever.
Sei que você me é também, mas, como não me assisto de fora, não me reconheço.
Talvez ele o fizesse.
A esse paradoxo que me foi legado, dou o nome de sorte.
É que ele não foi embora sem antes cuidar de renascer em mim.