A TUA DOR, IRMÃO
Doem me todas as palavras
No teu corpo de solidão
Enquanto a madressilva me sorri.
A Liberdade de um grito
Cravado em mim
Que desconheço.
Doem me inclusive as sílabas
Dos teus lábios de silêncio
Em redor da enseada.
Doem me castiçais de prata
Transbordando corvos feridos,
E sementes que jamais germinarão.
Dói me este pão de cada dia
Irmão,
A tua fome que encerro em mim,
O teu frio que me rasga por inteira.
Dói me este sangue de traição,
Esta ânsia de jasmim,
Este beiral de pardais,
Pedaço de ti.
Dói me a luz da cidade desperta.
Mata me o desassossego do fado
Que me liberta e santifica
Num altar de cravos e madrugada
e finalmente já exausta de mais um hino à tua, nossa Dor
Meu irmão,
Todas as palavras me doem,
Seja qual for o Caminho!
© Célia Moura – Do livro “Enquanto Sangram As Rosas