Carlos Seabra

terreno baldio
lixo revirado
gato vadio

salta o gato
assalta o gatuno
susto na noite

olhos de gato
luz dos faróis na noite
pulo no mato

gota na água
faz um furinho como
prego na tábua

chora poeta
musa obesa pensa
só em dieta

vela acesa
testemunha olhares
sobre a mesa

espiral de sol
luz nas frestas da
escada em caracol

caído, um corpo
acabado, um sonho
imóvel, um morto

que flor é esta,
que perfuma assim
toda a floresta

flor amarela,
no vaso, vê o mundo
pela janela

casa quieta
cochila o avô e
dorme a neta

fruta caída
ao lado da estrada:
pausa na ida

dia de eleição
primeiro o seu voto
depois a traição

louco desafio:
comer fubá e cantar
o sole mio!

copo de vinho,
um olhar e um toque:
te adivinho