Carlos Drummond de Andrade

O amor antigo vive de si mesmo, não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede.
Nada espera, mas do destino vão nega a sentença.
O amor antigo tem raízes fundas, feitas de sofrimento e de beleza

Se procurar bem, você acaba encontrando,
não a explicação (duvidosa) da vida.
Mas a
poesia (inexplicável) da vida.____________
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Burro é quem empresta um livro, mais burro ainda é quem devolve.

Construção
Um grito pula no ar como foguete.
Vem da paisagem de barro úmido, caliça e andaimes hirtos.
O sol cai sobre as coisas em placa fervendo.
O sorveteiro corta a rua.
E o vento brinca nos bigodes do construtor.

A noite anoiteceu tudo.
O mundo não tem remédio.
Os suicidas tinham razão.

hoje minha cidade é apenas um retrato na parede.

Ambição
A ambição torna os homens audazes;
a audácia sem ambição é privilégio de poucos.
Carlos Drummond de Andrade, In: O Avesso das Coisas 6º Edição, 2007.

A administração, organismo autoritário,
é feita de papel, isto é, de figuração de coisas.
(In: O Avesso das Coisas 6º Edição, 2007.)

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! Ser ‘gauche’ na vida.
(Do poema "Sete Faces"/in: Alguma Poesia, 1930.)

"A fé e a incredulidade trocam de lugar a todo momento no homem curioso”.
(em "O avesso das Coisas".
São Paulo: Editora Record, 2007.)

Alma
Prisioneira do corpo, a alma vive em guerra com o carcereiro.
( In: O Avesso das Coisas 6º Edição, 2007.)

Dai, Senhor, o mais fino paladar
a quem tem por missão alimentar.
(In: Poesia Errante, 1988.)

Amor próprio
Ao contrário do amor,
o amor próprio não acaba nunca.
( In: O Avesso das Coisas 6º Edição, 2007.)

Amor
Amar pela segunda vez o que foi nosso é
tão surpreendente que constitui outra primeira vez.
( In: O Avesso das Coisas 6º Edição, 2007.)

Amor
Entre as diversas formas de mendicância,
a mais humilhante é a dor amor implorado.
( In: O Avesso das Coisas 6º Edição, 2007.)