Carlos Drummond de Andrade

ainda assim te pergunto e me queimando em teu seio, me salvo e me dano: amor.

Quero romper com meu corpo, quero enfrentá lo, acusá lo, por abolir minha essência, mas ele se quer me escuta e vai pelo rumo oposto.
Já premido por seu pulso de inquebrantável rigor, não sou mais quem dantes era: com volúpia dirigida, saio a bailar com meu corpo.

Certas palavras não podem ser ditas em qualquer lugar e hora qualquer.
Estritamente reservadas para companheiros de confiança, devem ser sacramente pronunciadas em tom muito especial lá onde a polícia dos adultos não adivinha nem alcança.

Que é ser É ter um corpo, um jeito, um nome Tenho os três.
E sou

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho
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E o hábito de sofrer, que tanto me diverte.

Como viver o mundo em termo de esperança, que palavra é essa que a gente não alcança.

É sempre nos meus pulos o limite
É sempre nos meus lábios a estampilha
É sempre no meu não aquele trauma.

Amo tuas imperfeições e maravilhas, amo as com gratidão, pena e raiva intercadentes.

Por que chora o homem Que choro compensa o mal de ser homem

Morrer acontece com o que é breve e passa sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça, é eternidade.

Se há dois testamentos, o antigo e o novo, conviria instituir
um terceiro, para acabar com as contradições entre eles.
( In: O Avesso das Coisas 6º Edição, 2007.)

Ator
O ator é metade gente metade personagem,
não se distinguindo bem as metades.
( In: O Avesso das Coisas 6º Edição, 2007.)

Domingo
O tédio e a diversão múltipla dos domingo amam entrelaçar se.
( In: O Avesso das Coisas 6º Edição, 2007.)

Conhecimento
Mantemos reserva para com o desconhecido,
esquecendo que não nos conhecemos a nós mesmos.
( In: O Avesso das Coisas 6º Edição, 2007.)

“No céu também há uma hora melancólica.
Hora difícil, em que a dúvida penetra as almas.
Por que fiz o mundo Deus se pergunta e se responde: Não sei”.
(do livro em PDF: JOSÉ – Companhia das Letras)