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Améllia Flor

QUERO ENVIAR UMA CARTA
Acho que sou meio antiquada, sabe
Estava aqui pensando em te escrever uma carta.
Imaginei os traços firmes da minha caligrafia num papel qualquer, traçando palavras doces de um amor novinho.
Imaginei essas palavras preenchendo uma, duas, três folhas até, sem se tornarem cansativas ou repetitivas.
Nesta carta eu te contaria a minha história, diria tudo o que pensava sobre você e tudo o que mudou em mim.
Contaria os meus medos, sonhos e alegrias.
E até mesmo os planos para nós dois.
Eu escreveria sobre minhas manias, e realmente esperaria te fazer sorrir gostosamente neste trecho.
Falaria sobre os meus sentimentos, até porque, nós dois somos sentimentais, não é mesmo
Para terminar a carta, descreveria como eu estava: sentada à escrivaninha, com uma camiseta folgada e shorts jeans; os pés descalços balançam ritmadamente, mostrando meu nervosismo ao falar de amor.
Os cabelos soltos cobrindo parte do rosto onde desabrocha aquele sorriso de criança fazendo travessura.
Não assinaria.
Não com o meu nome.
Talvez colocasse “seu amor” ou “um certo alguém” ou talvez só “A”.
Isso seria o charme da carta.
Dobraria cuidadosamente, colocaria num envelope bege e inevitavelmente meu endereço seria escrito nele.
Imagino esta carta viajando horas antes de chegar até você.
O carteiro colocaria todas as correspondências naquela costumeira mochila, e sairia apressado sem prestar muita atenção.
Na recepção do teu condomínio, o porteiro receberia meu envelope junto com vários outros.
Quando você chegasse, iria se surpreender com uma cartinha para você, e ali, antes mesmo de chegar ao teu apartamento, você iria sorrir Aquele sorriso bobo pelo qual me apaixonei.
Aquele sorriso tímido, cheio de graça e gratidão.
Aquele sorriso Sorrindo para mim.
Resolvi que não seria prudente.
Por isso não escrevi.
Ainda.
Beijo,
Da sua,
A.