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Aline Araújo

O Mundo precisa de remédios
A impressão que tenho é que o mundo está de ponta cabeça.
Ou eu dormi tempo demais, ou o mundo não dorme há vários dias.
Talvez seja essa a razão do seu estresse e descontrole.
Gaze e sanativo sempre à mão.
O mundo precisa de remédios.
Eu estava terminando de estender as roupas do Michel, meu filho de 1 ano e meio, enquanto ele dormia, quando Mariana entra chorando em casa, sem nenhum material da escola, e com o rosto sangrando.
Antes que ela pudesse se acalmar e se explicar, tratei de ver logo uma sutura para aquela ferida, que nem sabia ainda se deixaria alguma cicatriz.
Meus conhecimentos em enfermagem, vez por outra, têm muita utilidade, principalmente em acidentes domésticos comuns.
Mas graças a vinda inesperada do Michel, a faculdade ficou pra depois.
Mas, não se tratava de um acidente.
Minha filha mais velha, Marina, 13 anos, não havia conseguido chegar ao colégio porque foi assaltada e ferida no meio do caminho, passando por uma rua estreita, ao lado da rua principal que dá acesso à entrada lateral da escola, e que não pode ser perigosa as 7:30 da manhã, mas foi.
Segundo a declaração assustada e nervosa da minha filha, ela não conseguiu tirar a mochila das costas com a rapidez que eles queriam, os livros caíram no chão, e eles, tão jovens quanto ela, e tão nervosos quanto, arrancaram a mochila, os livros, e saíram correndo a tempo de deixar um arranhão com a faca que eles usaram como arma.
Os três dias que se seguiram ela não quis mais ir à escola.
Chamei a situação dela de trauma, ela, porém, chamou o próprio estado de culpa.
E eu não entendi o que ela quis dizer.
Dias depois, achei, não por acaso, rabiscado num bloquinho cheio de anotações umas reflexões dela sobre aquele dia:
"A marca que eles deixaram no meu rosto não me agride tanto quanto a vergonha que me fizeram passar diante da minha condição impotente.
Não que eu tivesse alguma pretensão de reagir com violência, mas não consigo parar de pensar que não vai ser diferente com eles nem comigo.
Eu estarei na minha condição de garota bem de vida, cujos pais podem dar oportunidades que eu não desperdiçarei, enquanto eles não terão oportunidades alguma porque os pais deles também não tiveram, e enquanto eu morro de medo, eles morrem de indignidade.
Nenhum objeto levado vai me custar mais do que custa a vida deles e eu sinto amargamente a dor de não poder fazer nada."
Exatamente hoje faz 4 meses que isso aconteceu.
Estou na sala, preocupada, como sempre, esperando que ela chegue em casa, com a expressão cansada e satisfeita de todos os dias, com o teclado debaixo do braço e uma mochila carregada de cadernos.
A cicatriz no rosto da Marina, mais perto do queixo que dos olhos, é quase imperceptível agora, leve e sutil, tal qual o sorriso tímido.
A maneira como ela resolveu se livrar da ‘culpa’ e da ‘impotência’ é tão nobre que eu tenho esperanças no mundo e muito, muito orgulho da educação que eu e seu pai demos a ela.
Ela está dando aula de reforço e iniciação à música na favela que fica algumas quadras perto da escola.
Depois de almoçar, sai correndo e só volta no fim da tarde com um sorriso que me ensina a ser melhor.
O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer".
(Albert Einstein)

Pra se falar de amor é indispensável que eu tenha vivido tudo que ele pode provocar.
Do frio na barriga aos olhares perdidos nas nuvens, no ar.
Ter lembranças das reações à tímida troca de olhares e aos primeiros sorrisos da paquera.
Sem deixar de lado o arrepio na espinha do primeiro beijo seguido do olhar feliz, porém envergonhado.
Mas não posso negar que há dores em amar.
Há a desilusão que todo mundo conhece e a tristeza por não ser agrado aos olhos de quem tanto se quer bem.
A aflição maior se dá quando sequer conseguimos dizer o quanto é puro o amor que temos, mesmo que ele só cause dor.
Provamos o gosto ruim das lágrimas pesadas, choro aos soluços, que arrancaram dos olhos a beleza sorridente e mascararam os olhares com um pesar descontente.
E a mágoa de ter sido deixado pra trás, então.
Sonhos deixados de lado, resumidos à frustração.
Mas há que se acreditar, que o que há de pesado, pode também ser suave e puro.
Há amor que pode ser leve, delicado e gentil.
Que sabe ser intenso e febril e pode ser a coisa mais singela que já se viu.
Não que ele prefira ser dicotômico.
Não creio que seja assim, tão radical.
Do tipo escolhe entre fazer bem ou fazer mal.
Acontece que, quando comparamos, amarramos os extremos para sentir quão diferentes são.
E quando o amor é agradável, colorido e leve que basta um sopro pra formar bolhas de sabão só pra representar o que ele causa, sinto que amando é possível levitar.
Assim, o que doeu fica tão pequeno e insignificante que daqui do alto ninguém consegue lembrar.