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Alessandro Lo Bianco

Gosto de tomar uma taça de vinho em silêncio antes de dormir; é o momento que tiro para lembrar das coisas que busco sempre não esquecer e fazer um exercício de prevenção contra Alzheimer: lembro agora quando era criança e colocava os braços dentro da camisa e dizia às pessoas que os tinha perdido.
Lembro quando dormia no quarto da minha irmã e achava que todos os animais de pelúcia dela me olhavam; dormia com todos para nenhum ficar ofendido.
Acordava cedo final de semana só para forrar o chão com uma coberta e ficar com os brinquedos do lado vendo desenhos.
Sobre o amor, lembro que ele era mágico e me bastava completamente quando olhava a menina que eu gostava no colégio, e me escondia quando ela olhava de volta no recreio.
Lembro na escolinha de futebol quando me joguei no chão e simulei uma câimbra pra ver como era a sensação de ter uma partida inteira de futebol parada por minha causa.
Lembro quando tinha festa lá em casa, eu esperava atrás das portas para assustar as pessoas, mas saia sempre porque elas demoravam a passar e me dava vontade de fazer xixi.
Comecei então a assoprar dentro de sacolas plásticas e estourar no ouvido do meu pai pelas costas para os outros rirem.
Sobre o meu pai, lembro também que cansei de fingir que estava dormindo no sofá só para ver ele me carregar no colo para cama e ainda pedir silêncio para os outros no caminho para eu não acordar.
Quando viajava com meus pais de Friburgo para o Rio durante a noite, olhava pelo céu da janela do carro e achava que a lua estava seguindo o carro e, quando chovia, olhava aquelas gotinhas de água escorrendo na janela como se fosse uma corrida entre elas.
Parece que foi ontem que eu era criança e queria crescer O que havia na minha cabeça

Devo estar com uma aparência péssima mesmo.
Fui dar uma volta na rua de chinelo, e meu pé ficou igual do menino carvoeiro.
Mas é porque transpiro muito no pé e ele começa a sambar na borracha do chinelo e fica todo cagado Fui entrar na agência do Itaú pra sacar dinheiro, e uma senhorinha correu da porta com medo de entrar sozinha comigo, achando que eu fosse assaltá la.
Tudo bem, não estava com meus melhores trajes Mas, quando fui ao seu encontro para dizer que ela poderia ir no banco, que eu não era bandido, sem me dar qualquer chance, ela gritou o rapaz da Cet Rio que estava em frente a capela do colégio Zaccarias, no Catete, dizendo que estava sendo assaltada O cara me abordou enquanto chamou um carro da guarda municipal, que, estava exatamente parado em frente ao restaurante de frutos do mar Berbigão, certamente esperando o arrego do dia embrulhado numa quentinha, enquanto tinha gente na rua gritando que ia me bater Só fui liberado porque, graças a Deus, com a chegada da Guarda, por sorte, eu estava com o crachá do globo no bolso Me pediram desculpas, e eu respondi que eles poderiam ficar com o carro parado na porta do banco, em vez de vegetarem esperando comida em frente ao restaurante.
Antes que eles me dessem um fora, Dona Lurdes concordou e perguntou porque o carro estava em cima da calçada em frente ao restaurante, e não em frente a agência bancária, do outro lado da rua eles ficaram sem graça de contrapor a velha e calaram a boca Ali, estava estabelecido uma primeira relação de afeto e reciprocidade entre eu e minha nova "vovó".
Inclusive, a dona Maria de Lurdes, muito sem graça, não sabia o que fazer para se desculpar Eu, claro, perdoei Talvez ela tenha razão em julgar e achar que, a qualquer momento, possa ser esfaqueada na rua Que triste, vivemos um momento horrível na cidade onde todos se sentem ameaçados até mesmo por pessoas de bem Consegui, pelo menos, dar um beijo carinhoso na bochecha da dona Lurdes antes de ir embora, pois ela começou a chorar por ter sido injusta comigo, e reconheci que era de coração.
Descobri também que a Dona Lurdes mora aqui no Catete desde quando Getúlio presidia o Brasil aqui do palácio.
Já aceitei o convite e amanhã vou comer uma broa de milho na casa da dona Lurdes, que mora hoje aqui na Bento Lisboa.
Segundo ela, está acesa como se fosse ontem as passagens de Getúlio pelo bairro.
e ela quer me contar tudo o que lembra Quero escutar suas histórias e ver as fotos que ela diz ter pra me mostrar dessa época, "ao jornalista desleixado" , já tomei esporro da Dona Lurdes por ser jornalista e estar andando com os pés sujos na rua então, acho que, no meio dessa violência toda, nasceu uma nova e bonita amizade, onde a diferença de idade de dezenas de anos é um mero detalhe superficial Já lavei os pés Agora, depois do primeiro plano executado com sucesso, preciso colocar a cabeça no lugar e pensar direitinho como roubarei a casa inteira dela, nessa oportunidade única, e de que maneira vou assassiná la, em seguida, para que tudo pareça um acidente, depois de três dias, pois já descobri que ela não tem parentes aqui no Rio