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Alessandro Lo Bianco

Você sempre começa uma história pensando em alguém.
Poderão considerá las românticas demais ou exageradamente sentimental, considerando meus trinta e poucos anos.
Sentimentos que, contados em histórias, o bálsamo do tempo da escrita arrefece qualquer coisa.
Histórias como daqueles que casam depois de haver gozado e bem, a vida de solteiro.
Se conhecem e percebem a reunião, a um só tempo, da beleza de corpo e alma.
Após o encontro, fazem se amantes, em qualquer sentido que se queira dar a palavra.
Constroem um lar perfeito e geram uma prole de filhos.
Vivem juntos, tipo uns 50 anos; nesse período, passam bons e maus momentos, amparando nos reciprocamente.
Observam a família aumentar com a chegada dos netos.
De repente, em poucos dias, esse amor é interrompido por uma doença insidiosa, inesperada, que arranca um dos braços do outro.
Quem fica, sofre na alma a violência de um coice.
Já estavam beirando os 100 anos.
A tristeza é plenamente normal e justificável.
Durante um século, embriagaram se com o amor um do outro.
Com a perda, passa a sofrer uma depressão, sem dúvida, decorrente da saudade, e esta, a queria sempre bem latente para nunca esquecer.
Não permitia que médicos desbravadores da mente, com seus artifícios freudianos, expulsassem da sua memória, ou, pelo menos, amenizassem a saudade, que em verdade era a razão da sua vida atual.
Na concepção que faziam do termo, os quase 100 anos, um ao lado do outro, era a única história que haviam escrito juntos, movidos pela inspiração provocada por esse único, grande e insubstituível amor.
Durante todos os anos de felicidade, dedicavam se as próprias felicidades.
Destas, algumas que encontrei em cartas e bilhetes que guardavam dentro de uma caixa de sapato, preferi protegê las com o véu da privacidade que considero inviolável, tão somente agora; mas um dia ainda escrevo um livro com essa história.
Saudades.

VALENTINA
Esses milênios todos que vivi tentando corrigir imperfeições, foram tempos preciosos que perdi; só fiz por merecer mais provações.
Encarnei rico e vi na caridade o meio de exibir a minha riqueza.
Depois, vim pobre, e por sagacidade, tirei um bom proveito da pobreza.
Alma fechada, oposta à evolução, visando a carne, indiferente à morte, jamais cuidei da minha salvação.
O hedonismo sempre foi meu norte.
Fui cego, surdo, mudo e mutilado.
Também já vim com a forma de Narciso; matei por vício, e após fui trucidado.
Sofrendo o talião tão justo e preciso porém nesses milênios que passei atravessando a terra ou atravessando espaços uma coisa eu conservei, qual chama viva a iluminar meus passos.
Começou nesta encarnação, quando Valentina nasceu, enfim.
E pelo tempo afora desde então, não sei se vivo nela ou ela em mim.
Essa paixão que a cada dia aumenta, de beijos e carinhos se alimenta na terra e ficará pelo espaço eternamente.
Ela fez tornar me ao Carma indiferente, transformou o averno em mundo de magia, e a Terra triste em Éden de alegria.
Por isso, morrerei, quando for a hora, sabe lá o dia, com alegria; mas mal conterei em frente à Deus a minha rebeldia, que tão logo na família dela quero reencarnar.
Ao que presumo, a aprovação, com base no livre arbítrio, consiste apenas em me acompanhar.
E temo que ao findar aqui a minha missão, pelo umbral eu fique um tempo a gravitar.
E se por lá ficar, ao ver me órfão deste amor bendito, sentir me ei, então como um proscrito, sem luz, sem guia, e longe da verdade.
Mas hoje, com dias e horários marcados para buscá la já fico aflito, enlouquecido, ébrio de amor, carpindo no infinito o Carma doloroso da saudade