Cabe a cada um de nós não fazer o mesmo que outrem tem de fazer, mas sim o deixar feito o que nenhum outro fez, por muito que tal perturbe a ordem estabelecida.
Somos cada um de nós poeta único ( ) não aceitando, portanto, que tenhamos outro dever além de o sermos.
Nenhum de nós poderá, num momento qualquer, garantir que a sua doutrina seja a que encerre a verdade; os desmentidos surgem a cada passo, as incertezas vão sendo mais fortes è medida que se penetra com maior informação e mais atenta inteligência no mundo que nos cerca.
Filosofia é provocação e dúvida: jamais certeza e ensino.
Platão se perdeu quando fundou a Academia.
Virou dono da verdade e aprendiz de tirano.
Mais custa quebrar rocha do que escavar a terra; mais sólido, porém, o edifício que nela se firmou.
A grandeza da obra é quase sempre devida à dificuldade que se encontra nos meios a empregar.
A tradição mais profunda é a que vem da pré história; noção alguma de propriedade; nenhuma instituição do sagrado; acordo sim, chefia não; de escola nem sinal.
A posse de ócio pressupõe uma perfeição de domínio sobre a natureza que se não poderá conseguir senão à custa do sacrifício de muitas gerações, como o ócio de Atenas se alcançou à custa do sacrifício dos escravos.
O sofrimento ainda pode servir para alguma coisa, desde que o tomemos sobre nós com o espírito de amor que o torna fecundo; mas fazer sofrer deixa na história um rasto de satanismo que dificilmente poderemos apagar.
Um mundo arrumado é apenas o palco para o grande espectáculo, de que até hoje tivemos apenas um ou outro raro exemplo, da plena criação em todos os domínios, arte, ciência, filosofia, porventura vida também.
Se as pessoas me procuram não é por eu ser um génio coisa nenhuma.
Sou uma pessoa inteiramente normal.
É por de repente verem do lado de fora dito aquilo que elas pensaram sempre do lado de dentro, e, por exemplo, os tais processos de educação aprenderam a reprimir.
No mundo só fantasia existe: está comigo decidir se ela é o tudo ou o nada, já que me não pode socorrer o exterior, tão interior como eu ou eu tão exterior como ele, os dois afinal num mundo em que também é a fantasia a distinção entre um e outro.
Nem paz nem felicidade se recebem dos outros nem aos outros se dão.
Está se aqui tão sozinho como no nascer e no morrer.
Poderia perguntar se se é realmente a felicidade o valor máximo que a Humanidade procura e se não é a felicidade apenas um instrumento de alguma coisa mais fundamental do que ela.
Toda a vida bem vivida, harmoniosamente vivida, vivida sem faltas, sem manchas, com felicidade, com serenidade, é uma vida medíocre.
Tudo o que passe do medíocre tem em si o excesso e o erro.