Adélia Prado

As sensibilidades sem governo.

Deus de vez em quando me tira a poesia e eu olho pedras e vejo pedras mesmo

Aqui é dor, aqui é amor, aqui é amor e dor:
onde um homem projeta seu perfil e pergunta atônito:
em que direção se vai

"Sofro por causa do meu espírito de colecionador arqueólogo.
Quero pôr o bonito numa caixa com chave para abrir de vez em quando e olhar."

Eu tenho a esperança que nada se perde,
tudo alguma coisa gera
O que parece morto, aduba
O que parece estático, espera.

É roxo o amor, de amoras não, de dor.

Uma necessidade cósmica nos protege

“A vida é muito bonita,
basta um beijo
e a delicada engrenagem movimenta se,
uma necessidade cósmica nos protege.”

“DEUS É MAIS BELO QUE EU.
E NÃO É JOVEM.
ISTO SIM, É CONSOLO.”

Em Português (excerto)
As línguas são imperfeitas
pra que os poemas existam
e eu pergunte donde vêm
os insetos alados e este afeto,
seu braço roçando o meu.

É verdade, experimento o ruim e acho que o mundo desabou.

Um corpo quer outro corpo.
Uma alma quer outra alma e seu corpo.

"Raiva e Marcada de dor"

"De onde vens, graça que me perdoa deste tristeza, desta nódoa na roupa, da pele rachada em bolhas.
De onde vens, certeza de que um pouco mais de açúcar não fará a ninguém ".
(Em "A duração do dia" Página 27 Record 2011).

Sei que Deus mora em mim
Como sua melhor casa.
Sou sua paisagem,
Sua retorta alquímica
E para sua alegria
Seus dois olhos.
Mas esta letra é minha."
_
(PRADO, Adélia.
"Direitos Humanos" In Poesia Reunida, pg.
345 (Ed.
Record 2015)