CADELA ROSADA
[Rio de Janeiro]
Sol forte, céu azul.
O Rio sua.
Praia apinhada de barracas.
Nua,
passo apressado, você cruza a rua.
Nunca vi um cão tão nu, tão sem nada,
sem pêlo, pele tão avermelhada
Quem a vê até troca de calçada.
Têm medo da raiva.
Mas isso não
é hidrofobia é sarna.
O olhar é são
e esperto.
E os seus filhotes, onde estão
(Tetas cheias de leite.) Em que favela
você os escondeu, em que ruela,
pra viver sua vida de cadela
Você não sabia Deu no jornal:
pra resolver o problema social,
estão jogando os mendigos num canal.
E não são só pedintes os lançados
no rio da Guarda: idiotas, aleijados,
vagabundos, alcoólatras, drogados.
Se fazem isso com gente, os estúpidos,
com pernetas ou bípedes, sem escrúpulos,
o que não fariam com um quadrúpede
A piada mais contada hoje em dia
é que os mendigos, em vez de comida,
andam comprando bóias salva vidas.
Você, no estado em que está, com esses peitos,
jogada no rio, afundava feito
parafuso.
Falando sério, o jeito
mesmo é vestir alguma fantasia.
Não dá pra você ficar por aí à
toa com essa cara.
Você devia
pôr uma máscara qualquer.
Que tal
Até a quarta feira, é Carnaval!
Dance um samba! Abaixo o baixo astral!
Dizem que o Carnaval está acabando,
culpa do rádio, dos americanos
Dizem a mesma bobagem todo ano.
O Carnaval está cada vez melhor!
Agora, um cão pelado é mesmo um horror
Vamos, se fantasie! A lá lá ô !