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Brena Braz

Era tudo mentira quando eu falava pra você só falar a verdade.
Pra ser direto.
Não.
Mulher gosta de rodeios.
Gosta de ser galanteada.
E até de ouvir uma mentirinha de vez em quando.
Fale que eu sou a mulher mais linda do mundo.
Que eu sou mais bonita que a Gisele Bündchen.
Fale que vai me amar pra sempre.
Jure fidelidade eterna.
Diga que eu sou a pessoa mais importante na sua vida.
Minta como se estivesse dizendo a verdade.Eu não gosto tanto assim do escracho como eu dizia que gostava.
No fundo – ainda que muito fundo – eu gosto de um pouco de romantismo.
Quem fala que não gosta está mentindo.
Despiste se quiser só meu corpo.
Me mande flores, me leve pra jantar.
Finja que gosta de mim mesmo que, no final das contas, só queira me levar pro motel.
Finja que é meu, ainda que só por uma noite.
Eu gosto desse conto de fadas imaginário que toda mulher cria na cabeça pra colorir a vida um pouco.
Eu gosto de ouvir elogios exagerados.
De receber mensagens bobas no celular.
De receber e mails no final da tarde e flores no meio do trabalho.
Eu gosto de criar fantasias impossíveis.
Se eu te chamar pra viajar comigo, não significa que você precisa ir.
Minta que vai só pra não estragar a história.
O que eu quero mesmo não é nenhuma viagem.Eu finjo que odeio o seu ciúme mas morro de rir por dentro.
Acho lindo quando algum bonitão passa do meu lado e você vigia meu olhar com seus olhos.
Acho lindo quando meu celular toca e você, despistadamente, tenta ver quem é.
Acho lindo quando a gente sobe no elevador com algum vizinho gato e você me pergunta “quem é esse cara ” depois que ele desce no andar dele.
Acho lindo que você não tem ciúmes dos meus amigos feios.Mas você se tornou tão previsível que perdeu o encanto.
Você me conta que acha a vizinha “gostosa”, que acha aquela baranga da televisão “boazuda” e que acha minha amiga “muito boa”.
Você conta que “quebrou o pau” na noite anterior.
Que bebeu além da conta.
Que seus amigos são todos galinhas.
Essa sua mania de ser direto acabou com toda a poesia.
Você se tornou meu homem objeto e eu me tornei alguém que eu não sou.
Inventei uma mulher objeto pra te agradar.
Invento que eu não gosto de você.
Que eu não to nem aí pros seus desejos pelas outras mulheres e finjo que não ouço as coisas desnecessárias que você fala.
Invento que eu não gosto do romance e da poesia da coisa.Mas, quer saber ! Eu gosto da meia luz.
Eu gosto das palavras que só insinuam.
Eu gosto do jogo que eu sei jogar.
Eu gosto de ser seduzida e não arrastada pelo cabelo.
Eu gosto da sua mão segurando a minha e não só dela pelo meu corpo.
Eu gosto de me sentir a Marilyn Monroe e não a loira do Tchan.
Eu gosto de vinho tinto e não de cerveja na lata.
Eu gosto de jazz e não de funk.Te peço: finja de bom moço.
Mande mensagem.
Mande flores.
Mande no rumo da minha vida.
Me pegue no colo.
Dance comigo no supermercado.
Coloque o meu CD favorito quando eu entrar no seu carro.
Me chame de princesa.
Me chame de linda.
Me chame pra fazer parte da sua vida.
Apareça de surpresa.
Entre na minha vida sem eu perceber.
Minta que eu sou a única mulher que você deseja.
Minta que você mataria um dia de trabalho pra ficar à toa comigo em casa.
Minta mesmo que eu não acredite em nada disso.
E, se você resolver tornar tudo isso realidade, apenas seja.
Eu não preciso saber que é verdade.

A ÚLTIMA PRIMEIRA VEZ
Ele toca a campainha e, ao contrário de todas as vezes anteriores, ela não corre pra terminar de se arrumar.
Ela não coloca brinco na orelha, não retoca o batom, não troca a sandália de dedos pelo salto alto.
Ela atende a porta de chinelo velho e cabelo preso pra trás da orelha com piranha de plástico daquelas de duas por um Real.
Ele a olha nos olhos, diz que está com saudade e a abraça com tanta força que parece que vai quebrar aquele corpinho magrelo.
Ela fica na ponta dos pés para abraçá lo e, nesse instante, se lembra que costumava fazer isso para alcançá lo.
Foi tudo muito estranho pela primeira vez.
O tênis esquisito dele não combinava mais com ela.
Aquela camisa larga e aquela bermuda mais pareciam seu irmão de 17 anos.
Nada nele havia mudado, mas era tudo diferente pra ela.
A voz, o sorriso meio sem graça, o cabelo liso meio sei lá, as canelas finas, as mãos quadradas num tom rosado de tão brancas.
Tudo tão igual sempre foi e tão estranho pra ela.
A vida dela andou nesse um ano e pouco que eles ficaram sem se falar.
Ela mudou.
Piorou em algumas coisas, melhorou em outras, mas mudou.
Ela, que não gostava de rave e andava pra música eletrônica, agora compra ingresso com um mês de antecedência.
Ela trocou a cama por uma melhor, o sofá da sala por um branco lindo, mudou os móveis de lugar depois do Natal, trocou o carro por outro que anda muito mais.
Mudou o tom do cabelo, o estilo das roupas.
Fez vários novos amigos.
Para ele, parece que o tempo não passou.
Ele acha que pode chamá la pelos apelidos que ele costumava inventar pra ela, acha que pode pegar nela onde bem entender e que pode arrumar o cabelo dela pra trás da orelha.
Não.
Eles ainda têm algum assunto, mas ela já não faz mais piadinhas pra implicar com a vida de solteiro dele.
Ela não é mais dissimulada quando ele pergunta se ela está com alguém.
Ela está solteira e não precisa mais fingir que está de rolo com alguém pra fazer ciúme nele.
Não faz mais sentido.
Nada mais faz sentido.
As brincadeiras, o abraço, o toque do corpo.
Acabou a emoção, acabou o brilho no sorriso, acabou o sorriso nos olhos.
Coisas do tempo.
Ele partiu sem nenhuma dor.
Ela fechou a porta e sua vida continuou de onde estava.
Pela primeira vez, ela fechava aquela porta sem sentar na escada e chorar por ele ter ido embora pra sempre.
Pela primeira vez, ele saiu sem que ela o observasse partir com o coração apertado.
Pela primeira vez, ele foi embora sem deixar uma gotinha de esperança de que ela pudesse tê lo de volta na vida dela.
Pela primeira vez, ele partiu sem que eles tivessem trocado mais do que um abraço apertado.
Pela primeira vez, ele se foi sem que eles tivessem remexido o passado ou chorado porque alguma coisa não deu certo entre eles.
Pela primeira vez, ele foi embora de verdade.
Pela última vez, ele foi embora.