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Martha Medeiros

Dos ficantes aos namoridos
Se você é deste século, já sabe que há duas tribos que definem o que é um relacionamento moderno.
Uma é a tribo dos ficantes.
O ficante é o cara que te namora por duas horas numa festa, se não tiver se inscrito no campeonato “Quem pega mais numa única noite”, quando então ele será seu ficante por bem menos tempo dois minutos e irá à procura de outra para bater o próprio recorde.
É natural que garotos e garotas queiram conhecer pessoas, ter uma história, um romance, uma ficada, duas ficadas, três ficadas, quatro ficadas Esquece, não acho natural coisa nenhuma.
Considero um desperdício de energia.
Pegar sete caras.
Pegar nove “mina”.
A gente está falando de quê, de catadores de lixo Pegar, pega se uma caneta, um táxi, uma gripe.
Não pessoas.
Pegue e leve, pegue e largue, pegueeuse, pegue e chute, pegue e conte para os amigos.
Pegar, cá pra nós, é um verbo meio cafajeste.
Em vez de pegar, poderíamos adotar algum outro verbo menos frio.
Porque, quando duas bocas se unem, nada é assim tão frio, na maioria das vezes esse “não estou nem aí” é jogo de cena.
Vão todos para a balada fingindo que deixaram o coração em casa, mas deixaram nada.
Deixaram a personalidade em casa, isso sim.
No entanto, quem pode contra o avanço ( ) dos costumes e contra a vulgarização do vocabulário Falando nisso, a segunda tribo a que me referia é a dos namoridos, a palavra mais medonha que já inventaram.
Trata se de um homem híbrido, transgênico.
Em tese, ele vale mais do que um namorado e menos que um marido.
Assim que a relação começa, juntam se os trapos e parte se para um casamento informal, sem papel passado, sem compromisso de estabilidade, sem planos de uma velhice compartilhada namoridos não foram escolhidos para serem parceiros de artrite, reumatismo e pressão alta, era só o que faltava.
Pois então.
A idéia é boa e prática.
Só que o índice de príncipes e princesas virando sapo é alta, não se evita o tédio conjugal (comum a qualquer tipo de acasalamento sob o mesmo teto) e pula se uma etapa quentíssima, a melhor que há.
Trata se do namoro, alguns já ouviram falar.
É quando cada um mora na sua casa e tem rotinas distintas e poucos horários para se encontrar, e esse pouco ganha a importância de uma celebração.
Namoro é quando não se tem certeza absoluta de nada, a cada dia um segredo é revelado, brotam informações novas de onde menos se espera.
De manhã, um silêncio inquietante.
À tarde, um mal entendido.
À noite, um torpedo reconciliador e uma declaração de amor.
Namoro é teste, é amostra, é ensaio, e por isso a dedicação é intensa, a sedução é ininterrupta, os minutos são contados, os meses são comemorados, a vontade de surpreender não cessa e é a única relação que dá o devido espaço para a saudade, que é fermento e afrodisíaco.
Depois de passar os dias se vendo só de vez em quando, viajar para um fim de semana juntos vira o céu na Terra: nunca uma sexta feira nasce tão aguardada, nunca uma segunda feira é enfrentada com tanta leveza.
Namoro é como o disco “Sgt.
Peppers”, dos Beatles: parece antigo e, no entanto, não há nada mais novo e revolucionário.
O poeta Carlos Drummond de Andrade também é de outro tempo e é para sempre.
É ele quem encerra esta crônica, dando nos uma ordem para a vida: “Cumpra sua obrigação de namorar, sob pena de viver apenas na aparência.
De ser o seu cadáver itinerante".

VELHOS AMIGOS, NOVOS AMIGOS
Quem é seu melhor amigo(a) Deixe ver se adivinho: estuda na mesma escola ou cursinho, tem a mesma idade (talvez um ano a mais ou a menos), freqüenta o mesmo clube ou a mesma praia.
Se errei, foi por pouco.
Não é vidência: minha melhor amiga também foi minha colega tanto na escola quanto na faculdade e nascemos no mesmo ano.
São amizades extremamente salutares, pois podemos dividir com eles angústias e alegrias próprias do momento que se está vivendo.
Mas fique esperto.
Fechar a porta para pessoas diferentes de você é sinal de inteligência precária.
Durante a adolescência, é vital repartir nossas experiências com pessoas que pensem como nós e que tenham o mesmo pique: é importante sentir se incluído num grupo, de pertencer a uma turma.
Perde se, no entanto, o convívio com pessoas de outras idades e de outros "planetas", que muito poderiam lapidar a nossa visão de mundo.
Entre iguais, tudo é igual.
A vida ganha movimento é na diferença.
Se você é rato de biblioteca, iria se divertir ouvindo as histórias contadas por um alpinista experiente.
Se você tem muita grana, ficaria surpreso em saber como dá duro o cara que trabalha de
dia para poder estudar à noite e o quanto ele precisa economizar para tomar dois chopes no sábado.
Se você curte música, seria bacana conversar com quem curte teatro.
Se você é derrotista, seria uma boa bater um papo com quem já sofreu de verdade.
Você, que se acha uma velha aos 27 anos, iria se divertir muito com os relatos de uma cinquentona irada.
E você, beirando os 60, se surpreenderia com a maturidade de um garoto de 18.
Para os de meia idade, nada melhor do que ter amigos nos dois extremos: da garotada que lhe arrasta para dançar até aqueles que estão numa marcha mais lenta, que já viveram de tudo e de tudo podem falar.
A cabeça da gente comporta rafting e música lírica, videoclipes e dança flamenca, ficar com alguém por uma noite e ficar para sempre.
É importante cultivar afinidades, mas as desafinações ensinam bastante.
No mínimo, nos fazem dar boas risadas.
Vale amizade com executivo e com office boy, com solteiros e casados, meninas e mulheraços, gente que torce para outro time e vota em outro partido.
Vale sempre que houver troca.
Vale inclusive pai e mãe.