A Vigília de Hero
Tu amarás outras mulheres
E tu me esquecerás!
É tão cruel, mas é a vida.
E no entretanto
Alguma coisa em ti pertence me!
Em mim alguma coisa és tu.
O lado espiritual do nosso amor
Nos marcou para sempre.
Oh, vem em pensamento nos meus braços!
Que eu te afeiçoe e acaricie
Não sei porque te falo assim de coisas que não são.
Esta noite, de súbito, um aperto
De coração tão vivo e lancinante
Tive ao pensar numa separação!
Não sei que tenho, tão ansiosa e sem motivo.
Queria ver te estar ao pé de ti
Cruel volúpia e profunda ternura dilaceram me!
É como uma corrida, em minhas veias,
De fúrias e de santas para a ponta dos meus dedos
Que queriam tomar tua cabeça amada,
Afagar tua fronte e teus cabelos,
Prender te a mim por que jamais tu me escapasses!
Oh, quisera não ser tão voluptuosa!
E todavia
Quanta delícia ao nosso amor traz a volúpia!
Mas faz sofrer inquieta
Ah, com que poderei contentá la jamais
Quisera calmá la na música
Ouvir muito, ouvir muito
Sinto me terna e sou cruel e melancólica!
Possui me como sou na ampla noite pressaga!
Sente o inefável!
Guarda apenas a ventura
Do meu desejo ardendo a sós
Na treva imensa
Ah, se eu ouvisse a tua voz!