Setenta e cinco dias se passaram desde que você saiu da nossa casa tão metodicamente perfumada com o aroma doce dos nossos sorrisos.
Os lençóis continuam revirados e a mesa ainda está posta esperando pelo jantar que nunca aconteceria, servindo de abrigo para uma saudade que esquentava a cadeira da sala e o vazio árido do meu coração.
Ás vezes me pego sorrindo sozinha lembrando aquele seu ar cansado ao chegar do trabalho que logo se esvaia em um beijo quando se deparava com sua receita preferida sob o fogão.
Você adorava minha malícia em resgatar suas vontades preferidas de um livro de receitas, da vida, do amor.
Confesso que estou um pouco viciada nas nossas conversas de fim de noite, ali na portinha do sono, quando eu justificava todo meu dia naquela troca de cumplicidade.
Você sempre dormia antes de eu conseguir terminar o caso, eu sei, mas o seu suspiro perto do meu já consolidava o desfecho perfeito para um dia às vezes não tão agradável.
Descobri várias coisas sobre o amor sabe.
Hoje, entendo a importância que eu deveria ter dado para o seu descontentamento naquele domingo a tarde com minha falta de sensibilidade com suas urgências.
Quando a gente se afasta de tudo aquilo que acredita acaba afastando também as pessoas que se importam.
Você se importava.
Eu também.