Eu não sei o que dói mais, se é meu coração por dentro ou se é os arranhões que eu dei em mim mesma quando subia a rua e segurava o meu vestido.
Eu não sei se dói minha alma por ser tão tola à ponto de me fazer acreditar em destino, ou se é o meu dedinho do pé que eu chutei na cama mais cedo.
Eu não sei se dói mais eu ter feito tanta coisa por alguém e esse alguém não ter a paciência em fazer por mim, ou se é o tumor no meu ovário gritando pra sair.
Eu não sei se dói mais desistir desse futuro ou desistir de ser mãe e entregar meu útero aos médicos.
Eu não sei se dói mais por ser o meu único amor, ou se é a consciência pesada por ter que ir apresentar um trabalho agora e não ter condições.
Eu não sei se dói mais por ter acabado por sermos pessoas tão diferentes, ou se é a vergonha de ter os olhos vermelhos e inchados até o final da semana.
Eu não sei se dói mais respirar fundo e seguir em frente ou engolir a saliva e voltar a trás.