Não, ela não me completa.
Me transborda.
Como maré ao fim do dia, eu invado a praia, subo, me encho, faço barulho quando ela vem.
Eu sempre fui completo, sempre me fiz feliz, mas ela ela me inunda.
Faz meu peito parecer pequeno para tanta alegria.
Faz com que o antigo eu pareça muito menor perto do que é hoje.
Se antes eu já era completo, agora me sobra amor para dar e vender.
Porque o ser humano é um todo, feito milimetricamente do tamanho que tem que ser e a metade da laranja, na verdade, não é metade.
É o açúcar que vai no suco, é o tempero que dá um gosto a mais.
Depois de encontrada, não nos faz um único ser feito de dois corpos, mas nos faz seres melhores.
Que se complementam, que adicionam um sentimento a mais, um gosto, um cheiro que antes não havia.
O que antes era insonso, torna se néctar.
Foi isso o que aconteceu quando ela chegou: o meu copo cheio foi tomado de tempestade e transbordou.