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Martha Medeiros

Coragem, confesse: você assiste ao programa Em nome do amor do Silvio Santos, domingos à tarde.
É aquele programa onde garotas e rapazes que nunca se viram mais gordos tiram uns aos outros para dançar ao som de Julio Iglesias, enquanto aproveitam para trocar três palavras.
No final da música, Silvio pergunta para cada casal: é namoro ou amizade Se a menina responder amizade, volta para o banco de reservas.
Se responder namoro, ganha um buquê de flores e sai de mãos dadas com um amor novinho em folha.
Já pensou que paraíso se fosse fácil assim
Você está no bar da faculdade tomando um suco quando surge aquele colega que é um gato e que só faz uma cadeira nas quintas.
Ele vem na sua direção e sorri.
É seu dia de sorte.
Está cada vez mais perto.
Finalmente chega e lhe entrega um minidicionário Aurélio.
"Você deixou cair ali fora".
Antes que você consiga dizer obrigada, ele dá meia volta, mas não consegue dar um passo.
Silvio Santos está de microfone na mão interrompendo a fuga: é namoro ou amizade "Namoro", responde você.
A platéia do bar aplaude, você segura a mão do cara e não larga nunca mais.
Você está de bobeira no posto de gasolina, sábado à noite, encostado num Kadett.
Sua cerveja está ficando quente e você não tem mais um tostão no bolso.
Olha para o relógio: hora de saltar fora.
Nisso surge uma clone da Cameron Diaz e pede licença para sair com o carro.
Você desencosta.
"Está bem cuidado, princesa", diz naquele seu jeito cafajeste.
Ela entra, tenta arrancar mas quase atropela Silvio Santos, que surge não se sabe de onde, perguntando à queima roupa: é namoro ou amizade "Namoro", responde você entrando no Kadett da loira.
Arranjou uma carona e uma paixão.
Você é divorciada e não é uma ninfeta: quase já esqueceu para que serve um homem.
Está no cinema sozinha, pra variar.
Nisso entra um cinquentão boa pinta, sem aliança no dedo.
Senta quase ao seu lado, apenas uma poltrona os separam.
As luzes ainda estão acesas e na fila da frente três retardadas não páram de rir e de fazer barulho com o papel de bala.
O bacana olha pra você e diz: "Espero que, quando o filme iniciar, esse frege termine".
Ele fala frege, como você.
Feitos um para o outro.
Nisso Silvio Santos materializa se na poltrona do meio e lasca: "É namoro ou amizade " Você agarra o microfone: "Namoro".
Silvio sai de fininho, você pula para a cadeira do lado e assiste todo o filme com a cabecinha apoiada no ombro do tipão.
Ou você põe a imaginação pra funcionar ou se inscreve no Em nome do amor.
Mas vai ter que agüentar o Julio Iglesias.

VELHOS AMIGOS, NOVOS AMIGOS
Quem é seu melhor amigo(a) Deixe ver se adivinho: estuda na mesma escola ou cursinho, tem a mesma idade (talvez um ano a mais ou a menos), freqüenta o mesmo clube ou a mesma praia.
Se errei, foi por pouco.
Não é vidência: minha melhor amiga também foi minha colega tanto na escola quanto na faculdade e nascemos no mesmo ano.
São amizades extremamente salutares, pois podemos dividir com eles angústias e alegrias próprias do momento que se está vivendo.
Mas fique esperto.
Fechar a porta para pessoas diferentes de você é sinal de inteligência precária.
Durante a adolescência, é vital repartir nossas experiências com pessoas que pensem como nós e que tenham o mesmo pique: é importante sentir se incluído num grupo, de pertencer a uma turma.
Perde se, no entanto, o convívio com pessoas de outras idades e de outros "planetas", que muito poderiam lapidar a nossa visão de mundo.
Entre iguais, tudo é igual.
A vida ganha movimento é na diferença.
Se você é rato de biblioteca, iria se divertir ouvindo as histórias contadas por um alpinista experiente.
Se você tem muita grana, ficaria surpreso em saber como dá duro o cara que trabalha de
dia para poder estudar à noite e o quanto ele precisa economizar para tomar dois chopes no sábado.
Se você curte música, seria bacana conversar com quem curte teatro.
Se você é derrotista, seria uma boa bater um papo com quem já sofreu de verdade.
Você, que se acha uma velha aos 27 anos, iria se divertir muito com os relatos de uma cinquentona irada.
E você, beirando os 60, se surpreenderia com a maturidade de um garoto de 18.
Para os de meia idade, nada melhor do que ter amigos nos dois extremos: da garotada que lhe arrasta para dançar até aqueles que estão numa marcha mais lenta, que já viveram de tudo e de tudo podem falar.
A cabeça da gente comporta rafting e música lírica, videoclipes e dança flamenca, ficar com alguém por uma noite e ficar para sempre.
É importante cultivar afinidades, mas as desafinações ensinam bastante.
No mínimo, nos fazem dar boas risadas.
Vale amizade com executivo e com office boy, com solteiros e casados, meninas e mulheraços, gente que torce para outro time e vota em outro partido.
Vale sempre que houver troca.
Vale inclusive pai e mãe.