Respiro fundo pra tentar aliviar esse peso que incomoda as costas e o pescoço, há quanto tempo convivo com isso Já nem reclamo mais.
O sol ainda está tímido e preguiçoso, é bem cedinho, o dia ainda está acordando.
Sento na cama e olho para o seu lado, onde você não está e tudo que tem é um travesseiro lisinho, frio e intocado.
Quase nunca acordamos juntos nos últimos meses e tento lembrar de alguma vez, só para sentir aquele gosto de manhã completa.
Odeio a sensação de que algo ficou pra trás enquanto eu dormia, e vou ter que começar o dia mesmo assim.
A memória de uma manhã qualquer desfila nos meus olhos: seus olhinhos amassados e abrindo um sorriso que ofusca qualquer sol do meio dia.
Não temos mais isso e é tão injusto não termos isso com outras pessoas, não estamos felizes e ainda assim insisto em privar nos de manhãs como aquela.
Pego seu travesseiro e o amasso, bagunço um pouco o seu lado da cama e decido que hoje dormirei no meio da cama, sozinha.
Por um segundo isso me assusta e depois, gosto da ideia.
O egoísmo é algo que dói no nosso corpo.
Eu quero acordar sem dores.
Abro as janelas, troco os lençóis e me permito sabotar a rotina.
Ando pela casa, rego as plantas, tomo refrigerante ao invés de café e começo a flertar com o sabor de se fazer o que quiser.
Nada está errado, só existe a tua vontade.
A minha vontade.
O amor próprio é algo que cura nosso corpo.