Ele sabia que a casa ficaria vazia depois daquilo, que não haveria mais vida em nada ali, que as caixas de fastfood se amontoariam na mesa de centro da sala, e que seus livros ficariam escondidos pela poeira da mesma forma que as cinzas dos seus cigarros abarrotariam todos os cinzeiros e copos ao seu alcance.
De certa forma, ele tinha plena certeza de que assim que ela saísse por aquela porta, por um bom tempo ele não encontraria motivos para continuar levando a vida como levava com ela.
Talvez se demitisse, porque era o que sempre fazia quando se sentia mal, ficaria um ou dois meses parado em casa, não mal, mas só vegetando, sem sofrimento, só anuviando a mente, e depois voltasse à rotina, porque era isso o que sempre fazia.
– Eu vou ficar bem – ela disse levando uma mão no braço dele, tentando reconforta lo.
Mas ele já estava confortado, ele estava lidando bem com aquilo, só era confuso porque ele não queria que fosse assim, ele queria sentir se diferente, queria sentir se loucamente apaixonado, ou desesperadamente dependente, queria ter medo de perdê la, mas não conseguia.
[Fragmento do segundo conto do livro Menino Júpiter.]