Às vezes, na estranha tentativa de nos defendermos da suposta visita da dor, soltamos os cães.
Apagamos as luzes.
Fechamos as cortinas.
Trancamos as portas com chaves, cadeados e medos.
Ficamos quietinhos, poucos movimentos, nesse lugar escuro e pouco arejado, pra vida não desconfiar que estamos em casa.
A encrenca é que, ao nos protegermos tanto da possibilidade da dor, acabamos nos protegendo também da possibilidade de lindas alegrias.
Impossível saber o que a vida pode nos trazer a qualquer instante, não há como adivinhar se fugirmos do contato com ela, se não abrirmos a porta.
Não há como adivinhar e, se é isso que nos assusta tanto, é isso também que nos dá esperança.