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Robert Musil

Simbólica e inequívoca
Na verdade, encontramos desde as origens da história humana estas duas formas de comportamento, a simbólica e a inequívoca.
O ponto de vista do inequívoco é a lei do pensamento e da ação despertos, que domina quer uma conclusão irrefutável da lógica quer o cérebro de um chantagista que pressiona passo a passo a sua vítima, uma lei que resulta das necessidades da vida, às quais sucumbiríamos se não fosse possível dar uma forma inequívoca às coisas.
O símbolo, por seu lado, é a articulação de ideias próprias do sonho, é a lógica deslizante da alma, a que corresponde o parentesco das coisas nas intuições da arte e da religião; mas também tudo o que na vida existe de vulgares inclinações e aversões, de concordância e repulsa, de admiração, submissão, liderança, imitação e seus contrários, todas estas relações do homem consigo e com a natureza, que ainda não são puramente objetivas e talvez nunca venham a sê lo, só podem ser entendidas em termos simbólicos.
Aquilo a que se chama a humanidade superior mais não é, com certeza, do que a tentativa de fundir estas duas metades da vida, a do símbolo e a da verdade, cuidadosamente separadas antes.
Mas quando separamos num símbolo tudo aquilo que talvez possa ser verdadeiro do que é apenas espuma, o que acontece geralmente é que se ganha um pouco de verdade, mas se destrói todo o valor que o símbolo tinha.
Por isso, talvez esta separação tenha sido inevitável na evolução do espírito, mas produziu o efeito que se obtém quando se ferve uma substância para engrossá la e, ao fazê lo, provocamos a evaporação do que nela existe de mais intrínseco.
Hoje é quase impossível não ter a impressão de que os conceitos e as regras da vida moral são apenas símbolos recozidos, envoltos nos insuportáveis e gordurosos vapores da cozinha da humanidade.
(O Homem sem Qualidades)

Simbólica e inequívoca
Na verdade, encontramos desde as origens da história humana estas duas formas de comportamento, a simbólica e a inequívoca.
O ponto de vista do inequívoco é a lei do pensamento e da ação despertos, que domina quer uma conclusão irrefutável da lógica quer o cérebro de um chantagista que pressiona passo a passo a sua vítima, uma lei que resulta das necessidades da vida, às quais sucumbiríamos se não fosse possível dar uma forma inequívoca às coisas.
O símbolo, por seu lado, é a articulação de ideias próprias do sonho, é a lógica deslizante da alma, a que corresponde o parentesco das coisas nas intuições da arte e da religião; mas também tudo o que na vida existe de vulgares inclinações e aversões, de concordância e repulsa, de admiração, submissão, liderança, imitação e seus contrários, todas estas relações do homem consigo e com a natureza, que ainda não são puramente objetivas e talvez nunca venham a sê lo, só podem ser entendidas em termos simbólicos.
Aquilo a que se chama a humanidade superior mais não é, com certeza, do que a tentativa de fundir estas duas metades da vida, a do símbolo e a da verdade, cuidadosamente separadas antes.
Mas quando separamos num símbolo tudo aquilo que talvez possa ser verdadeiro do que é apenas espuma, o que acontece geralmente é que se ganha um pouco de verdade, mas se destrói todo o valor que o símbolo tinha.
Por isso, talvez esta separação tenha sido inevitável na evolução do espírito, mas produziu o efeito que se obtém quando se ferve uma substância para engrossá la e, ao fazê lo, provocamos a evaporação do que nela existe de mais intrínseco.
Hoje é quase impossível não ter a impressão de que os conceitos e as regras da vida moral são apenas símbolos recozidos, envoltos nos insuportáveis e gordurosos vapores da cozinha da humanidade.
(O Homem sem Qualidades)

O ser humano não consegue viver sem paixão.
E a paixão é o estado no qual todos os seus sentimentos e ideias se encontram no mesmo espírito.
Tu podes pensar, quase ao contrário, que é o estado em que um sentimento se torna todo poderoso, um único sentimento que atrai a si todos os outros um arrebatamento! Não, não querias dizer nada Seja como for, é assim.
Também é assim.
Mas a força de uma tal paixão é imparável.
Os sentimentos e as ideias só ganham continuidade quando se apoiam uns nos outros, na sua totalidade, têm de se orientar no mesmo sentido e arrastam se uns aos outros.
E o ser humano tenta por todos os meios, pela droga, pela ilusão, pela sugestão, pela crença, pela convicção, por vezes apenas recorrendo ao efeito simplificador da estupidez, criar um estado semelhante àquele.
Acredita nas ideias, não por elas às vezes serem verdadeiras, mas porque tem de acreditar em alguma coisa.
Porque tem de manter os afectos em ordem.
Porque tem de tapar com alguma ilusão o buraco entre as paredes da vida, para não deixar que os seus sentimentos se espalhem ao vento.
O caminho certo seria o de, em vez de se entregar a estados ilusórios, procurar pelo menos as condições da autêntica paixão.
Mas, feitas as contas, embora o número de decisões que dependem do sentimento seja infinitamente superior ao daquelas que se podem tomar com a pura razão, e todos os acontecimentos decisivos para a humanidade nasçam da imaginação, só as questões da razão se mostram ordenadas de forma suprapessoal; para o resto, nunca se fez nada que mereça o nome de esforço comum ou que sugira sequer a consciência da sua desesperada necessidade.