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Clarissa Corrêa

Nossos espaços
Sempre tive a seguinte filosofia: as pessoas vão até onde a gente deixa.
Sou eu que coloco os limites.
É você que diz até onde a outra pessoa pode ir.
Ninguém pode forçar a barra ou uma situação.
Ninguém pode forçar amizade, cumplicidade ou intimidade.
As coisas precisam ser naturais, simples, saudáveis, afinal, todo mundo está aqui para ser feliz, para conquistar todo dia alguma serenidade.
É ou não é
Percebo que hoje em dia tudo anda meio sem limites.
Um se mete na vida do outro, o outro se mete na vida do um.
Assim, sem a menor cerimônia, sem pedir licença.
E não gosto.
Sabe por quê Sou reservada.
Quem me vê por aí dizendo nas redes sociais hoje comi risoto de aspargos ou essa é a Junoca ou estou de férias ou estou na Jamaica ou olha que linda minha sapatilha ou qualquer outra coisa não me conhece.
Isso não é me conhecer.
Para você ter uma ideia, não é todo mundo que convido para ir na minha casa.
Acredito naquele lance de energia.
Gosto que sente no meu sofá quem tem energia boa.
Gosto que conheça minha intimidade quem eu quero.
Apesar de escrever tanto e sobre as coisas de dentro, me revelo para poucos.
E acho, de verdade, que a internet dá margem para as pessoas acharem que conhecem as outras.
Só pelo que falam.
Só pelo que tuitam.
Ninguém se dá conta que o "conhecer" é olho no olho, é tom de voz, é muito mais do que um bando de palavras perambulando por aí.
Mesmo porque na internet todo mundo é lindo e feliz.
Ou é chato e reclamão.
Essas duas categorias são as que mais se destacam: o que reclama de tudo ou o que diz que tudo é lindo e maravilhoso.
Extremos.
Quer saber um fato curioso Fiz aniversário na segunda feira.
Recebi muito carinho e vários parabéns.
Mas sabe quantas pessoas ligaram Poucas.
Poucas mesmo.
A maioria usou a internet (Facebook, Twitter, email, MSN) ou mensagens no celular.
Fiquei feliz com tantas felicitações, não estou reclamando, apenas fazendo uma observação: pouca gente ligou.
Pouca gente ouviu minha voz.
Antigamente, o telefone era o maior meio de comunicação.
Você atendia e do outro lado alguém cantava "parabéns pra você".
Você atendia e tinha uma telemensagem (lembra ).
Hoje em dia a internet deixa tudo mais rápido.
E mais impessoal.
Desculpa, mas eu acho.
Adoro cartão, carta, bilhete.
Toque.
Fico pensando como vai ser no futuro.
A internet aproxima e afasta, já falei sobre isso uma vez.
É prática, sim.
Mas até que ponto é realmente um meio de aproximação Em um email você não sente a pessoa.
Em uma carta, sim.
Vê a letra, sente a emoção.
Palavras digitadas são frequentemente mal interpretadas.
Dia desses aconteceu isso comigo.
Facebook.
Falei uma coisa, uma pessoa interpretou errado e veio dando voadora.
Feio.
Não entendeu o que quis dizer.
Mas como diz minha mãe "explicação a gente dá para porteiro".
Quem me conhece sabe exatamente como sou.
E não tenho, mesmo, que me explicar para ninguém.
Mesmo porque as pessoas juram que nos conhecem.
Acham que podem sair palpitando a torto e a direito na nossa vida, nas nossas coisas.
Quer um exemplo Ontem, do nada, uma pessoa me chamou no MSN.
Uma pessoa que eu não conheço e não fazia a menor ideia de como tinha meu MSN, afinal, uso ele para trabalho.
Pouca gente tem, apenas amigos, colegas e família.
Então, era de manhã, eu estava bem atrapalhada trabalhando e resolvendo pepinos gigantes.
A pessoa chegou sem bater na porta, perguntei quem era, ela se apresentou e perguntou "é difícil publicar um livro ".
Falei que sim, é.
E ela automaticamente (por eu não ter dado atenção ou explicado melhor a dificuldade, talvez) disse "você parece menos seca nos seus textos".
Como assim Percebe o absurdo Eu estou TRABALHANDO.
Chega uma pessoa do além, que nem sei como tem meu MSN, faz uma pergunta e quer que eu ofereça um chá com biscoitos
Insisto no seguinte: todo mundo tem que ter noção.
De espaço.
Aqui termina o meu, ali começa o seu.
Não sou seca, pelo contrário.
Só não gosto e nunca gostei de invasão, você gosta A gente não consegue nada forçando as coisas.
Ninguém vai gostar de mim se eu forçar uma situação.
Mas você vai gostar (ou não) de mim se eu for natural, verdadeira, honesta.
Se eu for exatamente como a vida é: simples.

A difícil arte de seguir em frente
(Em outras palavras: na hora do aperto a gente apela para a autoajuda, birita, ombro dos amigos, livros bestas e músicas cafonas.)
Por algum motivo as coisas não deram certo.
Sua vida seguiu por um caminho e a dele dobrou duas quadras mais para a frente.
Você fica se perguntando o que aconteceu, o que deu errado, por que vai ter que enfiar todos os planos dentro da nécessaire, fechar e ficar um tempão sem abrir novamente.
A gente passa por diversas fases.
Sentimos raiva, sentimos dor, sentimos revolta, sentimos desprezo, sentimos saudade, sentimos amor, sentimos medo de nunca mais esquecer, sentimos medo de gostar de novo, sentimos vergonha e receio em repetir os mesmos erros bobos.
Demorei muito para acreditar na mais louca e cruel verdade: quem gosta de você vai te tratar bem.
Quem gosta de você se importa, quer o melhor, te procura, te liga, te dá satisfação.
Quem gosta quer estar junto.
Quem gosta demonstra.
Quem gosta faz planos.
Quem gosta apresenta para a família e amigos.
Quem gosta manda uma mensagem bobinha só pra dizer que ama.
Quem gosta carrega uma foto sua dentro da carteira pra ver quando dá saudade.
Quem gosta abraça na hora de dormir.
Quem gosta dá um beijo de boa noite e de bom dia.
Quem gosta aguenta suas reclamações, sua cólica infernal, suas manhas e manias.
Me desculpa, mas não existe medo que seja maior que um sentimento.
Não existe timidez que seja mais forte que uma declaração de amor.
Não existe distância que deixe uma relação morrer se as duas pessoas querem ficar coladinhas.
Não existe estou dividido entre ela e você.
Quem gosta pode se perder, mas sempre vai saber pra onde quer voltar.
A gente demora pra aceitar, arruma novecentas desculpas para a falta de jeito do outro.
Ah, ele é confuso.
Ah, ele está tenso.
Ah, ele tem medo.
Ah, ele é maluco.
Ah, ele isso.
Ah, ele aquilo.
Desculpa, mas quem quer estar junto pensa ah, que saudade.
Ah, que falta ela me faz.
Quem gosta, gosta.
Sem complicações.
Sem armações e armaduras.
Infelizmente, antes de seguir em frente tentamos interpretar as ações e atitudes da pessoa indecisa.
Ele respondeu assim por tal motivo.
Ele falou isso querendo dizer tal coisa.
Ele isso, mas tenho certeza que ele aquilo.
Quem gosta dá certeza do que sente.
Quem gosta te olha com sinceridade.
Quem gosta não faz joguinho nem te deixa pela metade.
Quem gosta quer te deixar segura.
Por bem ou por mal, precisamos abandonar um sentimento que não traz nada de bom.
Simples assim.
Basta você se perguntar: é essa a vida que quero para mim Eu mereço ser feliz Eu mereço alguém que me ame Eu mereço alguém que se importe Eu mereço quem tenha certeza que me quer Eu mereço ser amada
O momento em que você percebe que o outro não te quer é mágico.
A gente acorda, se sente nova, se sente livre.
É claro que não se afoga um sentimento do dia para a noite.
Mas a gente tenta preencher aqueles espaços com coisas novas: músicas diferentes, bons livros, trabalho, amigos, decoração da casa, um animal de estimação.
Tudo serve para animar, renovar, encher a casa, a vida e preencher o tempo, costurar e remendar nossas feridas.
É claro que vai doer, é claro que você vai sentir, é claro que o sentimento ainda vai latejar por um tempo.
Mas a gente supera a partir do momento em que decide o que merece.